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Artigo de Opinião

DE LETRA E CAL

5/09/2022 07:00

Não sei como chegamos aqui, a estas rugas que teimam em desenhar qualquer coisa como a vida na pele, às pequenas manchas que são a testemunha da nossa alegria ao sol.

Não sei como chegamos a tantos anos contados rápidos, que se somam quase sem termos dado por eles.

E se nada disto sei, é porque no centro do corpo está quase tudo como dantes. A mesma esperança, o mesmo sonho, a mesma visão de nós mesmos como se nada se tivesse alterado à superfície da pele, suporte primeiro dessa inscrição do tempo que passa.

Não sei ainda quanto tempo vai demorar essa inscrição a chegar ao dentro mais dentro de nós, até se fazer coisa mais concreta. Até se criar em nós a verdadeira idade que transportamos na pele sem o peso de realmente a sentirmos.

É que no avesso dos espelhos continuamos a ser basicamente as miúdas sentadas na escadaria do liceu a imaginar o futuro, esse tempo por vir no qual desenhávamos a vida ainda quase toda por viver. Ainda somos as miúdas a puxar pela memória das músicas que seriam a nossa banda sonora. E eu acertava a nota para tu desafinares com toda a graça. Essa graça que nos fazia crescer o riso da barriga até à boca. Ficávamos ali, na escadaria, com tanto futuro pela frente.

Ainda não sabíamos das voltas da vida, das vezes em que o abismo se faria sentir, das outras vezes em que a felicidade era quase impossível de tão grande e concreta. Ainda não sabíamos dos erros e das vezes em que acertámos mesmo sem saber a pauta.

Os anos foram passando por nós e nós por eles, até ficarem agora mais marcados quando sorrimos com outra surpresa, com outra esperança, ainda com alguns sonhos, porque a quimera é matéria perene que resiste a todas as tempestades.

Na pele o tempo inscreve-se antes de o sentirmos por dentro. Daí talvez ainda este sorriso catraio do encontro que permite ficarmos pela tarde sentadas em frente de uma limonada, como se a doçura que não existe no limão, ficasse toda suspensa no calor deste verão de hoje, deste verão presente, deste verão da nossa idade futura.

O tempo na pele é o que nos desenha ainda, mas a força que de dentro subsiste é maior do que o desenho real da nossa idade.

OPINIÃO EM DESTAQUE
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