"A oração de Jesus na cruz é, também, atitude de total confiança. Apesar de se ver abandonado por todos — e de se sentir mesmo abandonado pelo Pai — Jesus continua a confiar, totalmente. Ele, que conhece intimamente o Pai, bem sabe que este sempre olha o horizonte e espera o regresso do Pródigo; bem sabe que o Pai está sempre pronto à festa da reconciliação. Também nós havemos de pedir a confiança total no Pai: Ele pode ter outros desígnios sobre nós e sobre o mundo; pode mesmo parecer tardar na sua resposta — mas jamais abandonará os seus filhos ao poder da morte. Ele está atento, vê a aflição do Seu Povo". As palavras foram proferidas pelo bispo do Funchal, na celebração da Paixão do Senhor, na Sé, numa mensagem em que apelou aos fiéis que rezem pedindo essa mesma confiança total em Deus.
D. Nuno Brás lembrou que Jesus fez seus os sofrimentos dos que sofrem. "A sua oração está bem longe de ser apenas um pedido de algo de que Ele necessita. Pela sua boca e pelo seu coração, surgem os gritos, os estados de alma daqueles que vivem um momento de derrota, de morte, para os apresentar ao Pai. A nossa oração, longe de ser apenas qualquer coisa que nos diga respeito, é também a voz daqueles que não sabem rezar; é o grito de quantos se veem abandonados; é a palavra daqueles que pensam ter sido esquecidos até pelo próprio Deus".
O prelado madeirense analisou que, de Jesus que reza ao Pai na cruz, "percebemos e pedimos que a nossa oração seja a sua oração: que, ao rezarmos, como diz S. Paulo, tenhamos em nós os mesmos sentimentos do Senhor (Filp 2,5). Não queremos outra oração: o que pedimos, o que agradecemos, o que partilhamos com o Pai seja coincidente com o que Jesus pede, agradece, partilha".
Mais ainda, apontou: "queremos que a nossa oração seja a oração de Jesus em nós. Cristãos que somos, queremos, no meio deste mundo, ser o espaço que Jesus encontra para poder continuar a rezar: "Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?"; "Pai, em vossas mãos entrego o meu Espírito"; "Tudo está consumado!" Que havemos de fazer com Jesus? Aprende com Ele a rezar ao Pai!", como concluiu a homilia.
Mas, antes, o bispo do Funchal orientou os cristãos presentes pelo percurso que tem sido feito ao longo da Semana Santa, com a questão que Pilatos colocou: "Que hei de fazer com Jesus, chamado o Cristo?" A mesma questão se manteve também nesta Sexta-Feira Santa. "Se ontem respondíamos: ‘deixa que Jesus tem ensine a amar’, hoje, perante a morte de Jesus na cruz, devemos responder: ‘deixa que Jesus te ensine a rezar’. Até porque, as palavras de Jesus na cruz são "antes de mais nada, oração", como referiu D. Nuno Brás, salientando que são várias as passagens dos evangelhos em que Jesus aparece a rezar. "Sobretudo nos momentos importantes da sua vida. A sua oração era tal que os discípulos — que faziam parte do povo judeu, um povo habituado a rezar e que fazia da oração uma das marcas do seu dia! — não hesitaram em pedir-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a rezar’.
E Jesus viveu pela oração, "sempre unido ao Pai", lembrou o responsável pela Diocese do Funchal. "Não espanta, por isso, que Ele viva na oração este momento derradeiro mas central da sua vida na terra e de toda a história do universo, que é a sua morte na cruz. Tudo em Jesus é oração, porque nele tudo é entrega nas mãos do Pai e tudo é cumprimento da missão recebida".
A dada altura da homilia, D. Nuno Brás questiona sobre o que se pode aprender da oração de Jesus. "Ela é, em primeiro lugar, disponibilidade total para a vontade do Pai: ‘Não se faça a minha vontade, mas a tua’. E desse modo há de também ser a nossa oração: atitude de completa abertura à vontade de Deus, mais que a procura de que Deus realize os nossos desejos e caprichos.
Rezamos para ter disponibilidade total para Deus na nossa vida", apelou.
Para além disso, Jesus a rezar com a Escritura é a palavra que Deus oferece "como alimento, como resposta, e onde podemos encontrar tudo quanto havemos de dizer ao Pai. Jesus reza com a Escritura; e também nós havemos, cada vez mais, de partir da Sagrada Escritura, de a fazer nossa, de aprender a tomá-la como oração, como alimento".
Refira-se que na tarde desta Sexta-feira Santa são muitos os fiéis presentes no local.
Paula Abreu