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Pandemia promove redescoberta do amor

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Data de publicação
14 Fevereiro 2021
5:00

Relações

A pandemia trouxe, inevitavelmente, mais stress e discussões entre os casais. No dia em que se celebra o amor, o JM procurou ouvir a opinião de psicólogos madeirenses acerca dos novos desafios a que estão sujeitos os relacionamentos amorosos em contexto de covid-19.

Apesar do confinamento estar a colocar grande pressão no campo do amor, os especialistas entendem que esta crise não é motivo suficiente para determinar o sucesso ou o fracasso de duas pessoas que constroem um “nós”.

Visão que é defendida pela psicóloga Teresa Carvalho, especialista na área clínica e desenvolvimento comunitário, que explica ao JM que a covid-19, ao integrar-se na relação como elemento estranho, confronta o casal com mudanças repentinas que podem ser perturbadoras.

O acréscimo de vulnerabilidades, sejam elas físicas, sociais, emocionais ou económicas, obrigam, segundo a psicóloga, a desafios na vida pessoal, familiar e social, com uma influência determinante nos comportamentos e atitudes de quem os vivencia.

Não determina o fracasso

No entanto, apesar de situações de crise, como é o caso da pandemia, influenciarem uma relação, “não são elas que determinam o seu sucesso ou fracasso, mas sim a forma como os elementos desse relacionamento a gerem”, sublinha Teresa Carvalho.

Alimentar uma união num panorama pautado pela instabilidade exige, naturalmente, muito mais das pessoas. É sabido que as discussões fazem parte de todas as relações. Todavia, em casos de maior vulnerabilidade, em que a regulação das emoções e dos comportamentos está mais afetada, é “muito natural” que haja o desencadeamento de conflitos, conforme referiu ao Jornal Sílvia Brazão, psicóloga clínica e psicoterapeuta. A profissional ressalva, porém, que o impacto não será o mesmo em ligações amorosas mais saudáveis e com maior sustentabilidade.

“Alguns casais confrontam-se com problemas antigos, e outros sentem-se aniquilados por uma imensidão de novos problemas (…) Os conflitos podem agudizar e dar azo a um círculo vicioso em que ambos reclamam do outro e se sentem injustiçados. Por outro lado, também haverá quem consiga sair desta crise com a relação fortalecida”, diz Sílvia Brazão, reforçando que os relacionamentos que se criaram e mantiveram assentes em princípios e valores mais supérfluos, encontram-se assim numa condição de maior fragilidade, e tenderão a acabar por se romper.

A ideia é vincada também por Carla Câmara, psicóloga especialista em sexologia clínica, que reconhece que as relações já debilitadas antes da pandemia, podem não conseguir dar a volta por cima, situação que poderá “ter contribuído para o aumento das separações que temos verificado”.

Crise promove evolução

Em tempos difíceis há que extrair o melhor, de forma a promover a evolução, seja ela entre o casal ou pessoal.

“Uma crise obriga a mudanças e a necessidade de realizar essa mudança faz descobrir e reinventar recursos e possibilidades, que constroem novas soluções mais evoluídas e com novos potenciais”, lembra Teresa Carvalho, sublinhando que o panorama atual leva a que o casal alargue as suas fronteiras, num processo de redescobertas que irá revitalizar e consolidar a relação.

Atitudes têm papel fulcral

No processo de construção da relação amorosa, atitudes como o cuidado mútuo, o respeito por aquilo que cada um sente, o apoio, a aceitação e a comunicação são para a psicóloga Teresa Carvalho fatores determinantes para uma relação se manter viva.

“Com a cultura de cuidado e de respeito instalada, há contexto favorável para o autocuidado físico e psicológico, para a organização dinâmica da vida diária no equilíbrio entre atividade e descanso e para alimentar a esperança na capacidade de vencer a crise e reinventar e revitalizar a relação amorosa”, remata.

Vida íntima do casal afetada

Quem também não tem dúvidas de que a Sars-CoV-2 veio trazer grandes desafios aos apaixonados é Carla Câmara, que indica que a pandemia “afetou a vida íntima dos casais”.

O grande desafio para a psicóloga especialista em sexologia clínica “passa por tentar manter a conjugalidade. Esta implica cumplicidade, intimidade, respeito e comunicação”, frisa a profissional.

O facto de passarem mais tempo juntos implicou uma melhor gestão tanto do tempo, como das tarefas domésticas, dos filhos e dos espaços físicos e emocionais, obrigando a uma nova dinâmica de oportunidades em família e na sua intimidade.

“A criatividade, como sempre em situações de crise, vem ao de cima e surgem ideias e estratégias novas, espaços (internos e externos) mais explorados, redefinidos. (...) Os casais tiveram a necessidade de reinventar o sexo. Um maior investimento no erotismo urge! Talvez já fizesse falta antes, mas esta situação vem acentuar essa necessidade”, aponta Carla Câmara.

No meio desta ‘tempestade’ provada pelo novo coronavírus refere a especialista que muitos pares amorosos optam por redefinir a sua união e pedir ajuda, acreditando que a relação “valia a pena sarar”. Uns saem “reforçados” outros não.

“Baby boom” versus “divórcio boom”

A pandemia poderá até ter colocado muitas relações à prova, mas nem tudo é negativo. De acordo com Sílvia Brazão, face aos novos desafios no campo amoroso surgiu nas pessoas a necessidade de acelerar a concretização de projetos, experiências e sonhos de uma vida. Se por um lado verifica-se um aumento de divórcios durante a pandemia, por outro, segundo a psicóloga clínica e psicoterapeuta, existe uma tendência para o aumento de outras iniciativas tais como casamentos e nascimentos, sendo expectável um “divórcio boom”, mas também um “baby boom”.

Por Bruna Nóbrega

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