Pedro Louro, comandante dos bombeiros de Espinho e coordenador municipal de proteção civil, na referida cidade, considera que “o nível de interferência política no setor da proteção civil é extremamente exagerado”.
Numa análise aos incêndios na Madeira, publicada na rede social LinkedIn, intitulada ‘Sejamos justos e realistas’, o especialista elogia a ação da Proteção Civil Regional e fala das especificidades da ilha, considerando que o tempo de pedido de ajuda terá sido o correto.
“Se tivéssemos oficializado e bem definido um conjunto de métricas que definissem o apoio externo ao território em causa, estaria justificado o momento de pedir ou não pedir apoio do Continente e a pergunta de “porquê só agora” passaria também a estar automaticamente respondida”, escreveu.
Segundo Pedro Louro, as “opiniões e voluntarismos causam uma pressão sobre a opinião pública que, por sua vez, causa uma pressão nos decisores políticos, que acabam por ceder perante o receio de serem acusados de “não aceitaram a ajuda” ou “não pediram ajuda””.
“Os incêndios na Madeira são notícia, entre outros aspetos, porque não estamos habituados no nosso país a aceitar que há zonas em que o incêndio se vai desenvolver livremente durante dias, sem meios de combate e sem que muito possa ser feito; A maior parte dos perímetros dos incêndios da Ilha da Madeira vão-se extinguir por si próprios em zonas com menor predisposição para o fogo ou quando o combustível (coberto vegetal) for todo consumido”, considera.
Pedro Louro está convencido de que a “FOCON [Força Operacional Integrada] vai injectar know-how e suporte à tomada de decisão operacional pelo valor dos operacionais envolvidos e pela tecnologia que tenho a certeza que vão usar” e “vai aliviar a pressão política e ajudar a tranquilizar a população e a opinião pública”.
A encerrar a reflexão, o especialista deixa um alerta: “A ilha da Madeira deverá avaliar se não poderá vir a ter um Inverno com o risco acrescido de ocorrências de deslizamento de terras em vertente e de cheias rápidas em meio urbano, tal é o efeito provocado nos solos pelos incêndios rurais”.