As novas revoltas na Madeira
Vivemos esta semana dias de aparente calma misturados com ensaios de revoltas à moda da Madeira. Em bom rigor, foram manifestações públicas de desagrado sem intenção de tomar qualquer tipo de poder.
Apesar do carácter absolutamente pacífico desses protestos públicos, não deixa de ser curioso ver tanta gente de mal com a vida numa terra em que a norma é a maioria mostrar-se ‘feliz e contente’ com a vida que lhes deixam viver.
Mas, por estes dias, surgiram muitas pessoas a assumir publicamente as suas discordâncias. Não sendo nada de extraordinário, por cá ainda é raro e digno de registo.
Primeiro foram os militares. É certo que não são madeirenses, mas foi na Madeira que 13 homens da Marinha bateram o pé. Desobedeceram às rígidas normas internas e impediram uma missão.
É evidente que não merecem elogios porque deixaram ficar mal uma estrutura de comando, uma força militar, um país. Mas também parece pouco crível que tenham tomado medida tão drástica – que os empurra para fora da carreira - por coisa pouca. Sendo assim, o mais prudente é deixar assentar a poeira que cai sobre Portugal inteiro antes de aplicar sentenças.
No dia seguinte, nos Barreiros, nasceu uma nova revolta à moda da Madeira. Daquelas muito intensas nas redes sociais, muito cheias de entusiasmos, de certezas inabaláveis para a vida inteira.
Normalmente essas revoltas duram uns dias.
E os adeptos verde-rubros, que juram deixar de ir à bola com as águias, são os mesmos que lá estarão no próximo jogo de camisola verde e vermelha. Foi assim antes. Vai ser assim na próxima semana.
Mas, no caso do Marítimo, a revolta chegou às instituições.
Apertada pelos adeptos, a direção do clube mandou as responsabilidades para a Polícia de Segurança Pública. Que os agentes é que não fizeram o seu trabalho, por isso falhou tanta coisa que não podia ter falhado.
Apertado pelos adeptos e pelo clube, o Comando Regional da Polícia de Segurança Pública fez o que raramente faz: contra-atacou na mesma moeda e arrasou a direção do Marítimo.
Andam revoltados os consumidores. Comparam preços, publicam fotografias de valores que pagaram recentemente e do que pagam agora. Acrescentam comentários furiosos, que isto é uma vergonha, um escândalo, um roubo.
Mas nesta luta desigual, pouco mais podem fazer os consumidores do que pagar, comer e calar. As autoridades regionais dizem que não têm como interferir e sugerem que Lisboa faça alguma coisa.
Andam também revoltados os habitantes do Norte da ilha, particularmente os de Santana e os do Porto Moniz por não terem direito a serviço de urgências 24 horas por dia.
As autoridades já explicaram que não é bem assim. Que há ambulâncias novas e rápidas em caso de urgência. Que as distâncias são curtas, quando comparadas com o continente. Que estão dentro dos limites previstos.
As autoridades até já foram ao Norte explicar isso bem explicado. Encheram salas com gente da cidade e outras gentes do Norte politicamente comprometidas. Mas os cidadãos do Norte, os que não têm cargos, que não entram em listas – a não ser as de espera - esses continuam a reclamar mais meios de socorro.
Por fim, uma pequena manifestação de discórdia que se revela maior do que aparenta. Em causa, a mudança operada na Diocese do Funchal.
Tudo aconteceu de forma muito rápida. Talvez rápida demais.
Na terça-feira, a Diocese fez saber que o cónego Manuel Martins deixara o cargo de ecónomo, responsável pelo património da igreja na Madeira. E foi assumido que a decisão se devia a razões pessoais
Na quarta-feira, o cónego veio dizer que não foi bem assim. Admitiu motivos pessoais, mas disse que sai “sobretudo por razões internas” com as quais não se identifica.
Na quinta-feira, a Diocese anuncia que encontrou substituto e que o cargo passa a ser gerido por um leigo.
Na sexta-feira, a Diocese faz saber que o substituto já tomou posse.
Tamanha celeridade, mostra que estão a acontecer coisas na Diocese do Funchal.
De todas estas pequenas revoltas fica uma certeza: terão todas o mesmo destino. Como bem dizem e melhor sabem os madeirenses, “isto vai dar em nada”.
E com diziam os mais antigos, “isto é como o mal da traça. Dá e passa”.