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Artigo de Opinião

AQUINTRODIA

23/05/2021 08:00

É a história dum homem, a manifestar sinais de demência, que recusa admitir ou aceitar.

«O Pai» é uma história  de sonhos e fantasias, ou de vivências que se varreram, mas que a espaços se apresentam em moldes de realidade ou ficção.

Um Pai que recusa apoios, que rejeita quem lhe seja indicado em amparo e faz difícil a vida  a quem lhe dá o seu melhor.

A casa transformada em passarela de cuidadoras que vão saindo de cena destroçadas, incapazes de lidar com indelicadezas ou acusações que serão apenas um transbordar da confusão que se vai instalando e dominando, ou a recusa em aceitar a disponibilidade do acompanhamento.

É a história duma filha que não desiste do Pai, e que insiste e persiste, em  resiliência  notável.

Um Pai trancado nos  auscultadores que lhe dão asas, ou dificuldade da filha, bloqueada por uma realidade que se  avoluma e impossibilita  a relação?

É uma história sem a afetividade do toque, a magia dum abraço ou o calor  dum carinho.

A não ser quando o Pai, já  institucionalizado,  cede à  saudade da filha, agora distante, e  aninhado no colo duma   cuidadora, chora pelo aconchego da  mãe.

A filha, assumindo com responsabilidade e ternura a coordenação dum lento e contínuo escorregar, esquecida de si, a desvalorizar confusões e amarguras de palavras e gestos, faz-me voltar atenções para o papel dos cuidadores Informais.

«CUIDADOR INFORMAL é a pessoa familiar ou terceiro, com laços de afetividade e proximidade que, fora do âmbito profissional ou formal e não remunerada, cuida de outra pessoa, preferencialmente no domicílio desta, por se encontrar numa situação de doença crónica, incapacidade, deficiência e/ou dependência total ou parcial, transitória ou definitiva, ou em situação de fragilidade e necessidade de cuidados, com falta de autonomia para a prática das atividades da vida quotidiana».

É a definição  do DLR nº 5/2019/M, que seguindo  e adaptando legislação nacional,  lista objetivos,  perfis,  direitos e deveres dos cuidadores.

Dentre outros, é referenciado o direito a receber ajudas técnicas, como forma de aumentarem a qualidade dos cuidados prestados e a redução do desgaste físico na sua prestação.

O  direito de serem apoiados na saúde, particularmente no foro psicológico; Até  direito a apoio financeiro. Mas é tão burocrático e complexo o processo, tão irrisório o montante, que muitos preferem nem dar-se ao incómodo de o requerer. Aliás, nem isso, de longe, é o mais relevante.

Para desempenharem com eficácia a tarefa, sobretudo na demência, os cuidadores têm de estar conectados pela afetividade e proximidade à pessoa cuidada. A fragilidade progride, as capacidades vão-se apagando,  as limitações avolumam-se paulatinamente.

Só pessoas bem formadas e preparadas, ligadas por afeto e responsabilidade, atingem a empatia que a situação exige.

E é com boa dose de paciente compreensão, com ternura e disponibilidade, que a missão se assume.

Não vejo que as instituições olhem os Cuidadores pelo seu merecimento, como interventores de cariz social, verdadeiros parceiros da saúde comunitária.

Será relevante aos Cuidadores dar-se a oportunidade de estarem próximos, em partilha, desabafo, oração, incentivo, relaxamento, seja o que for…

Que sempre tenham a ventura de usufruir de amizades solidárias, confortantes, encorajadoras.

Alguma  compensação vai chegando  no afago dum olhar…

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