A celebração desta efeméride representa uma oportunidade para refletir sobre a relação das políticas da população com o desenvolvimento socioeconómico, analisando os comportamentos demográficos atuais e as suas consequências. Representa também uma oportunidade de perspetivarmos o futuro (o que vai muito além de um mero exercício de adivinhação), através de projeções de médio ou longo prazo, baseadas em cenários assentes numa leitura cuidada de indicadores, tais como, as taxas de fertilidade, a mortalidade e as migrações. Ou seja, o método pode e deve ter uma componente científica, pois os dados existem e devem ser usados para prever e antecipar cenários futuros que poderão ser, mais ou menos, auspiciosos.
Na Europa, após o declínio da população em 2020 e 2021, decorrente dos impactos diretos e indiretos da pandemia, 2022 registou um ligeiro aumento da população, alavancado pelo efeito das migrações, pois o saldo natural (diferença entre os nascimentos e os óbitos) continuou negativo. Mas nem sempre foi assim. Se na década de 60, a Europa crescia a um ritmo de 3 milhões de pessoas/ano, já entre 2005 e 2022, esse valor cifrou-se nas 800 mil pessoas/ano. Além disso, o atual cenário europeu revela uma multiplicidade de situações: se atualmente encontramos Estados-membros com apenas meio milhão de habitantes (Malta) outros há que, já atingiram a fasquia dos 84 milhões (Alemanha). Aliás, as discrepâncias na distribuição da população são tão grandes que, se juntarmos a população de apenas 3 Estados-membros - Alemanha, França e Itália, por exemplo, ficamos com quase metade da população europeia (47% para ser mais exato)!
Mas tão importante como identificar os problemas do presente, é também ter a capacidade de perspetivar o futuro, recorrendo às projeções demográficas e tomar medidas em funções das dinâmicas populacionais antecipadas nesses cenários, nomeadamente, ao nível da sustentabilidade das finanças públicas, nos impactos do envelhecimento na população ativa e no potencial de crescimento económico dos Estados-membros. E as últimas projeções são bem claras: até 2100, a UE irá sofrer uma perda de 27 milhões de pessoas (-6%), apesar do possível crescimento que se prevê ocorrer até 2026, por força da guerra com a Rússia. A população jovem (0-19 anos) deve reduzir em quase 2% até ao final do século (representando apenas 18% da população total), enquanto a população ativa (20 aos 64 anos de idade) deve diminuir cerca de 9 %. Em contraciclo, o grupo etário dos idosos terá um crescimento significativo.
Dito de outra forma, o envelhecimento demográfico não é um "problema" de somenos importância. É uma evidência científica que requer reflexão e ponderação sobre as estratégias a implementar, para minimizar os impactos do envelhecimento, garantindo-se que os idosos não sejam vistos pela sociedade como um mero fardo. Porque, em boa verdade, não o são! São cidadãos de enorme valor e grande experiência de vida que poderão ver o seu potencial humano e profissional rentabilizado (no bom sentido), nomeadamente ao nível das relações intergeracionais, pois temos todos muito a aprender com a partilha de conhecimentos e experiências. Em suma, caminhamos para uma nova realidade social, económica, cultural que não pode ser ignorada e que requer novos modelos de organização social. A "velhice" está a mudar, e implicará das autoridades públicas, do sector privado, das famílias e da sociedade em geral, um novo e distinto olhar, bem como, uma nova forma de interagir com um grupo etário em crescimento, cujas vontades e ambições são muito distintas das anteriores gerações.