MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Geógrafo / Colaborador Europe Direct Madeira

1/12/2025 08:00

Há quatro semanas tive a oportunidade de escrever neste mesmo espaço de opinião que antevia a Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP 30) como o grande acontecimento do mês de novembro. Porém, o artigo tinha como título “expectativa versus Realidade”, numa clara alusão à quase certa decepção relativamente aos resultados desta COP30, à semelhança daquilo que já aconteceu em anos anteriores, mas sobretudo porque a atual conjuntura geopolítica desvia todas as atenções para outros tipos de problema que não os do ambiente, da sustentabilidade e da necessidade imperiosa de invertermos o atual estado das coisas, se ainda queremos salvar este planeta.

E assim foi! O show-off em torno da COP traduziu-se numa mão cheia de nada. É caso para dizer que, uma vez mais, a montanha pariu um rato! É óbvio que houve concretizações efetivas, houve compromissos e sorrisos, alegrias e aplausos. E houve discursos de vitória, tal como nos atos eleitorais em que todos reclamam conquistas, mesmo aqueles que nada ganham. Mas os factos apontam noutra direção: face ao aumento da temperatura média do planeta, será irrealista pensar que os limites definidos em 2015, no Acordo de Paris, venham a ser uma realidade. Limitar o aquecimento abaixo dos 1,5ºC é uma miragem. Limitar o aquecimento abaixo dos 2ºC é tecnicamente possível, mas exige compromissos políticos improváveis.

Por outras palavras, estamos numa situação complexa, em que o impacto das alterações climáticas é evidente aos olhos de (quase) todos, mas a falta de compromisso e envolvimento efetivo dos diferentes intervenientes, em particular, de alguns pesos-pesados – EUA, China e Índia, deita por terra as esperanças de um futuro mais risonho a curto ou a médio prazo. A COP30, não tendo sido um sucesso (longe disso), teve o mérito de manter viva a chama da esperança, adiando a tomada de decisões realmente impactantes, nomeadamente na condenação inequívoca dos combustíveis fósseis, o que coloca o planeta numa trajetória perigosa.

A UE bem tentou puxar a carroça, mas não houve força nem influência para tanto. Ainda assim, não tenhamos qualquer dúvida que, se o texto final menciona a urgência de acelerar a transição, muito se deve à insistência da UE que conseguiu manter a sua integridade como grande líder climática mundial, apesar das limitações evidentes na “eco-contaminação” de outras potências mundiais que continuam à margem dos grandes compromissos coletivos.

E porque falamos de ambiente, uma nota final para relembrar que se celebrou, na semana passada, a EWWR – Semana Europeia de Prevenção de Resíduos que este ano, tinha nos resíduos elétricos/eletrónicos (REEE) o seu tema central, ou seja, produtos que dependem de corrente elétrica ou campos eletromagnéticos para funcionar, desde os grandes eletrodomésticos como frigoríficos e máquinas de lavar, até pequenos aparelhos como telemóveis e computadores portáteis, passando por equipamentos de iluminação, ferramentas elétricas diversas ou brinquedos. Os dados (2023) sobre esta matéria são bem elucidativos do muito trabalho que ainda há por fazer neste domínio: a média de recolha deste tipo de resíduos era, na UE, de apenas 11,6 Kg/hab, quando no mesmo ano foram colocados no mercado cerca de 32 Kg de EEE novos por pessoa! Já a taxa de recolha na UE, foi nesse ano de 37,5%, quando a meta estabelecida pela diretiva UE exige 65%!

E claro, também neste domínio as disparidades europeias são gritantes: se na Bulgária, a quantidade de REEE recolhida foi de 17,9 kg/hab, em Portugal, esse valor ficou-se pelos 5,8 Kg/hab. Mentalidades? Limitações técnicas? Desconhecimento? De uma forma ou de outra, o problema existe, é real e merecia um olhar mais atento de todos nós. Afinal, quem não tem em casa, uma gaveta cheia de carregadores sem qualquer uso? Ou um cemitério de telemóveis obsoletos e sem qualquer utilidade? Façamos a nossa parte.

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