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Artigo de Opinião

Médica

24/04/2021 08:00

Este acontecimento chave na história de Portugal é referenciado nos manuais escolares, para que as novas gerações nunca esqueçam o que custou a liberdade. Para além desta fonte de informação, ouvir e ler os testemunhos de quem viveu este dia, de forma intensa, é uma forma privilegiada de aprender. Nascida após o 25 de abril de 1974, partilho convosco a experiência do meu pai, militar durante a Revolução.

Arnaldo Rosa de Freitas, mais conhecido na tropa por Rosa, foi incorporado no 2º turno de 1973, em Abril, apresentando-se em Mafra para o Curso de Oficiais Milicianos. Feita a 1ª parte da recruta cadete, com a duração de 3 meses, foi em seguida, em Julho, para o quartel de Lamego, instalações que formam os conhecidos "Rangers". Nesta formação na especialidade sofreu um acidente que o levou a um longo internamento, de vários meses, no Hospital Militar do Porto.

Em abril de 1974 teve alta hospitalar e veio à Madeira visitar a família. Recuperado e com a ordem de se apresentar na sua unidade em Lamego, saiu da Madeira no dia 23 de abril, num voo de 4,5 horas, num avião militar com destino a Lisboa. Pernoitou na capital e no dia seguinte, dia 24 de abril, apanhou o comboio para o Porto e seguidamente para o Peso da Régua. Apresentou-se finalmente em Lamego, após uma longa maratona desde o Funchal.

Nessa noite lembra-se de algumas particularidades que lhe chamaram a atenção, sendo a mais relevante o facto de alguns colegas do 1º turno, entretanto já instrutores, andarem com rádios, o que não era autorizado no ano anterior. Tentou saber o que se passava e foi-lhe confidenciado que haveria uma "operação forte" nessa noite, e seriam necessários rádios. Até aqui não estranhou, até porque era normal fazerem-se provas de surpresa na formação, e tinha realizado 3 destas operações antes de sair acidentado. Nessa altura, o irmão do meu pai, o meu tio Pedro também estava a fazer o curso em Lamego, e o meu pai foi visitá-lo na camarata. Este estava muito apreensivo porque tinham deixado as armas na parada, e estas tinham desaparecido. Mais tarde, vieram a saber que tinha sido uma companhia do Porto que tinha levado as armas preparadas para a revolução. As desconfianças do meu pai ficaram sanadas quando o comandante da unidade o informou que não poderia ficar no quartel e que, na madrugada do dia seguinte, o levariam a Peso da Régua para apanhar comboio com rumo a Lisboa e apresentação em Mafra novamente. Entretanto, as rádios lançaram a senha da revolução (a canção "E Depois do Adeus" de Paulo de Carvalho), que deu o sinal para a saída das tropas dos quartéis.

Pela manhã do dia 25 de abril, quando chegou à estação do Porto - Campanhã já havia muita confusão de militares e civis, e só se lembra de comprar uma sandes e querer entrar no comboio com destino a Lisboa. Chegado à estação de Santa Apolónia, e no percurso até ao Martim Moniz, onde tinha ligação de autocarro para Mafra, a situação era bem diferente, com ruas cheias de gente "alucinada", montras partidas, carros vandalizados e euforia desmedida. A farda já era uma bandeira, as pessoas saudavam e gritavam frases de vitória e "abaixo o fascismo". À tarde chegou a Mafra e descreve um alvoroço de movimento de carros e cadetes, a se prepararem para saírem para Lisboa. Já havia cravos nas espingardas. O meu pai acabou fazendo patrulha nos arredores de Mafra, em jipe, e armado com a espingarda G3. Esta é a experiência da revolução do meu pai, "um 25 de abril praticamente em trânsito", como costuma dizer.

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