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Artigo de Opinião

25/04/2021 08:00

Sem mais delongas, retomo o tema onde o deixei: o que podem fazer as instituições democráticas, qual deve ser o papel da comunicação social, como construir uma resposta das bases e qual deve ser a acção dos partidos democráticos, no combate ao monstro?

A resposta das instituições democráticas

Há que evitar a infiltração da extrema-direita no aparelho do Estado, começando pelas forças de segurança. Da mesma forma, há que estabelecer "cordões sanitários" para impedir a entrada da extrema-direita nos governos e instituições. Adicionalmente, deve promover-se a investigação de comportamentos não democráticos, ilegais ou suspeitos dos grupos extremistas. Até agora, atendendo a exemplos recentes que será desnecessário enumerar, estamos a falhar em toda a linha…

Outra prioridade será combater o financiamento ilegal dos partidos. No caso da extrema-direita, este frequentemente chega por meio de redes opacas vinculadas a lobbies globais, como os fundamentalistas cristãos e o das armas.

Acrescente-se a grande batalha do século: a dos dados, na qual a extrema-direita tem vindo a queimar etapas, recolhendo ilegalmente (ou com duvidosa legalidade) os dados de inúmeros cidadãos, para utilização na sua propaganda online. Há que regulamentar, investigar e actuar.

Legislação e fiscalização também urgem no combate eficaz ao discurso de ódio, à disseminação de teorias da conspiração e na guerra às "shit storms", feitas com recurso a "trolls" e perfis automatizados ou falsos. As instituições devem pressionar as grandes empresas de tecnologia a desenvolver e fazer cumprir regulamentações estritas e confiáveis, sob a supervisão dos poderes públicos.

A resposta da comunicação social

A comunicação social tem uma parcela de responsabilidade no avanço da extrema-direita, tornando-se, consciente ou inconscientemente, amplificadora dos seus discursos. Não é possível fazer "notícia" das declarações de venturas e quejandos quando se baseiam em mentiras, sem fazer qualquer contextualização ou verificação. Importa haver mais ética jornalística e um maior esforço para combater a desinformação, evitando a divulgação de boatos e pós-verdades. Evitar os "clickbaits" e apostar mais na verificação de factos.

A resposta das bases

A acção dos movimentos sociais (de grupos antifascistas e antirracistas a feministas) é importante, mas não suficiente: devemos promover a criação de redes de baixo para cima, que evitem a constituição de grupos extremistas e o recrutamento para as suas fileiras. Há que sair à rua e conversar com as pessoas, fortalecendo os laços comunitários, principalmente em bairros e periferias. Deve haver uma corresponsabilidade de todos, cada um com as suas possibilidades e capacidades. Não podemos continuar a olhar para o lado e reclamar, quando as nossas democracias se transformam em conchas vazias e o primado da lei numa memória distante.

A acção dos partidos democráticos

Começando pela esquerda, esta deve saber construir um projeto que saiba articular as diferentes lutas existentes, dando-lhes unidade, em vez de se dedicar à incessante busca da pureza autoindulgente e evitando cair nos debates estéreis e incompreensíveis para grande parte da sociedade. Deve preocupar-se com as condições materiais dos trabalhadores, mas não pode pensar que a defesa dos que, outrora, foram chamados de proletários, não seja compatível com as outras lutas. A caixa do supermercado é, ao mesmo tempo, trabalhadora e mulher. Eventualmente, poderá também ser migrante. As identidades são múltiplas. A proposta deve, portanto, ser inclusiva.

Os partidos democráticos, em geral, devem criar escolas políticas, dedicar tempo e dinheiro à formação, ao debate e a saber comunicar. Devem ter a coragem de sair da sua zona de conforto, tentando, por exemplo, formar amplas alianças para proteger a democracia, mesmo com partidos e sectores da sociedade politicamente distantes. Quando necessário, promover alianças eleitorais e acordos antifascistas específicos.

Em suma, um trabalho árduo onde todos terão que ceder e unir-se, na defesa de um bem maior: a sobrevivência da democracia e a celebração da liberdade, a que o 25 de Abril abriu as portas.

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