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Artigo de Opinião

28/02/2021 08:00

Desde logo, ficaram alguns sinais preocupantes para o futuro, o mais óbvio dos quais é a promessa de casamento com o PSD, no cenário pós-autárquico. Tendo o nubente contraído matrimónio com o CDS após as derradeiras legislativas regionais, este presuntivo acordo é também um prenúncio de divórcio. Depois de várias décadas solteiro, o PSD-Madeira mostra-se disponível para desposar em segundas núpcias uma noiva de má fama e pior conduta. Para já, a prometida trouxe um dote apetecível, de incomensuráveis elogios, incondicionais apoios e infindáveis promessas. Atendendo à facilidade e rapidez com que o mestre andré muda de ideias e troca de princípios, estas palavras doces depressa poderão passar a fel, mas isso não parece preocupar aqueles que, subitamente, se mostram tão pressurosos em normalizar e branquear o radicalismo do Chega, em troca da garantia de tranquilidade na manutenção do poder.

Entretanto, este populista hipócrita, este ponta-de-lança da extrema-direita internacional, continua a debitar as suas tiradas de esplanada e as suas "verdades do povo", enquanto vai arrebanhando uma tropa fandanga de deserdados e ressabiados dos partidos do sistema que alega combater, para compor uma estrutura regional e preparar o assalto autárquico.

Mais uma vez, afirmo sem qualquer hesitação que estarei sempre na trincheira oposta, a combater contra esta extrema-direita 2.0, como lhe chamou o professor e investigador Steven Forti, num artigo intitulado "Manual de Instruções para combater a Extrema-Direita", que traduzi e adaptei, e do qual irei transcrever diversas passagens. Espero que seja uma leitura útil para os democratas madeirenses. Aqui vai, ponto por ponto:

1. Para combater a extrema-direita é necessário estudá-la.

Sem conhecer um fenómeno é impossível compreendê-lo e, consequentemente, combatê-lo. O primeiro passo essencial é estudar a nova extrema-direita, entender de onde veio, como se organiza, como actua e que discursos utiliza.

Para começar, é um fenómeno completamente diferente dos fascismos de entre guerras ou dos neofascismos da segunda metade do século XX. O visual da cabeça rapada e da indumentária de reminiscência militar foi trocado pelo fato e gravata; conceitos inaceitáveis no pós-Auschwitz, como o racismo biológico, foram substituídos por batalhas culturais, através do etnopluralismo ou do diferencialismo. Além disso, a extrema-direita compreendeu o potencial das novas tecnologias, a começar pelas redes sociais, para ganhar visibilidade nos media e destaque político. Em suma, a extrema-direita 2.0 é mais "apresentável", fala a língua do cidadão comum e movimenta-se muito bem no mundo digital.

2. É um fenômeno global, estúpido!

Existe uma grande "família" de extrema-direita ao nível internacional. Portanto, se não pensarmos globalmente, estamos cometendo um grande erro. Todas as formações de extrema-direita 2.0 têm, de facto, alguns denominadores mínimos comuns: um nacionalismo marcante, identitarismo, a recuperação da soberania nacional, um elevado grau de eurocepticismo e/ou aversão ao multilateralismo, um conservadorismo generalizado, islamofobia, a condenação da imigração (rotulada de "invasão") e o distanciamento formal de experiências passadas de fascismo.

Mas há, também, diferenças: poderíamos dizer que cada país dá vida à extrema-direita 2.0 de que necessita. A título de síntese, convém, portanto, sublinhar que as suas diferenças não impedem a inclusão destes ultra-direitistas na mesma macro-categoria e na mesma família com laços transatlânticos extremamente estreitos, graças ao trabalho de lobbies como o do fundamentalismo cristão ou o das armas.

(CONTINUA - Devido a limitações de espaço, irei solicitar à Direcção do JM que publique a continuação deste artigo nos próximos dias)

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