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Artigo de Opinião

Jornalista

15/04/2021 08:03

No norte da Madeira mais concretamente em Santana não é necessário recuar muito no tempo para encontrar outra realidade bem diferente. Não há muitos anos o acesso a cuidados primários de saúde era quase que uma miragem.

A unidade de saúde mais próxima ficava no Funchal no Monte e dava pelo nome de Hospital dos Marmeleiros. Era para aqui que vinham as situações mais graves e mesmo assim com alguma dificuldade.

No norte o que existia era apenas um médico que cobria grande parte das freguesias dos concelhos daquela zona. Uma tarefa complicada, se atendermos às dificuldades de natureza económica e social da época, bem como a dificuldade nos acessos em toda a costa norte da Madeira.

O Dr. Leonel Mendonça era praticamente único para aquelas localidades.

O médico tinha a sua residência e consultório na freguesia de São Jorge mas também dava consultas noutros pontos do norte da ilha. Com alguma regularidade também vinha a Santana. Dava consultas numa casa de colmo ali para os lados do sítio da Achada da Cruz. Foi assim durante muitos anos. Era por ali que passava muita gente de toda a freguesia. Nesta zona seguramente que não haverá ninguém da minha geração e até um pouco antes que não tenha conhecido o Dr. Leonel de São Jorge. Era um especialista em tudo.

Na altura, a maior das pessoas tinham receio de ir ao dentista, só o faziam em último recurso, quando a dor no dente persistia.

Ainda tenho as marcas da minha experiência com ele. No meu caso resumiu-se a dois dentes arrancados.

Depois de vários dias com o tormento das dores de dentes, a solução foi mesmo recorrer ao "senhor doutor". Depois de tanto reclamar, um dia lá teve de ser. Foi mesmo necessário ir a São Jorge. O diagnóstico já estava feito: dentes estragados, ou como se dizia em linguagem popular - "dentes furados". Um problema que nos dias de hoje é relativamente fácil de cuidar, mas que na altura só se resolvia com uma solução radical: tirar o dente estragado.

No meu caso queixava-me de uma dor na "cova " de um dente. Quando lá cheguei era esse o diagnóstico. Ía com a ideia de que seria apenas um, mas afinal depois da avaliação feita pelo doutor, a solução passava por arrancar dois. Um estava realmente estragado, o outro como estava encostado e já começava a ter sinais de "contágio "a recomendação do médico foi a de que seria melhor arrancar os dois. E lá foi. Recordo- me do médico a aplicar a anestesia, deixar esperar um pouco e depois com alguma força começar a arrancar os dois dentes. Saí dali com uma sensação estranha na boca, com a impressão de que me tinha arrancado não dois, mas sim meia dúzia de dentes.

A minha experiência com este médico que era único naquela zona foi esta. Como esta haverá muita gente com muitas histórias também para contar sobre as dificuldades de então no acesso a cuidados básicos de saúde. Era ele quem acudia a toda a população da costa norte. Quanto aos preços praticados, sinceramente não me recordo, mas sei que ajudou muita gente.

Faleceu em 2006 com 90 anos. Foi merecidamente distinguido pela Ordem dos Médicos e pela Junta de Freguesia de São Jorge.

Seguramente muitas vidas foram poupadas graças à sua sabedoria e dedicação.

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