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Artigo de Opinião

29/04/2024 07:40

Para aqueles que viveram sob a sombra da ditadura do Estado Novo em Portugal, o dia 25 de abril de 1974 foi mais do que uma simples mudança de regime político. Foi a aurora de uma nova era, uma libertação há muito esperada, uma explosão de esperança e possibilidade. Significou o fim de décadas de repressão, medo e limitações impostas pelo autoritarismo. Foi o dia em que a voz do povo português finalmente ecoou pelas ruas, desafiando a tirania e reivindicando sua dignidade e liberdade.

Para esses, os nossos avós e os nossos pais, o 25 de abril foi o despertar de um novo amanhecer, repleto de promessas de democracia, justiça e igualdade. Foi a oportunidade de construir um país onde as ideias pudessem florescer livremente, onde as diferenças fossem respeitadas e onde cada cidadão pudesse participar ativamente na vida política e social da nação. O 25 de abril simbolizou a coragem e a determinação do povo português em lutar pela sua emancipação e pelo direito a um futuro melhor.

No entanto, à medida que o tempo passa e uma nova geração surge, nascida após o 25 de abril de 1974, como é o meu caso, o significado dessa data histórica pode parecer distante e abstrato. Para aqueles que cresceram num Portugal democrático, as histórias de opressão e resistência podem parecer pertencer a um passado distante, separado por uma lacuna geracional.

Essa desconexão histórica é ainda mais acentuada num mundo onde a informação é facilmente acessível, mas a experiência pessoal é limitada. Para os jovens nascidos no século XXI, como os filhos daquela geração que já nasceu após a Revolução, que crescem num ambiente de liberdade de expressão, movimento e acesso à tecnologia, é difícil compreender plenamente as restrições e os horrores vividos pelas gerações anteriores sob o jugo do Estado Novo.

Explorar a vida durante a ditadura do Estado Novo é adentrar em um universo de medo, limitações, perseguições políticas e sociais, pobreza e repressão. É uma realidade que pode parecer distante e insondável para aqueles que nunca a experimentaram em primeira mão. A dificuldade em transmitir essa experiência para as gerações mais jovens torna-se ainda mais desafiadora à medida que o tempo avança e as memórias desbotam.

À medida que os sobreviventes da era do Estado Novo envelhecem e partem, a Revolução dos Cravos corre o risco de se tornar apenas uma memória distante, uma data no calendário comemorada, mas talvez não compreendida totalmente. O choque geracional entre aqueles que viveram sob o regime ditatorial e aqueles que cresceram em uma democracia está destinado a crescer à medida que o tempo avança.

No entanto, é fundamental que não deixemos que a importância do 25 de abril de 1974 seja esquecida ou minimizada. Esta data deve continuar a ser celebrada e lembrada como um marco crucial na história de Portugal, um lembrete vívido do poder do povo em desafiar a opressão e lutar pela liberdade.

É também um alerta para os perigos dos extremos e da complacência. A democracia é um processo contínuo que exige vigilância e engajamento ativo. Devemos sempre estar atentos aos sinais de autoritarismo e nunca sacrificar nossas liberdades em troca de uma ilusória segurança.

Imagine, por um momento, se hoje, em plena era das redes sociais e da exposição pública, uma polícia política (como a PIDE) fosse reinstaurada em Portugal. Se os cidadãos fossem submetidos a perseguições nas suas vidas privadas, sociais e profissionais em nome da segurança nacional. Por exemplo, permitindo-se o uso generalizado de câmaras de vigilância, sistemas de reconhecimento facial e monitoramento de comunicações eletrónicas, para acompanhar os movimentos e interações de indivíduos em tempo real. Ou a utilização de algoritmos avançados de análise de dados para examinar grandes volumes de informações pessoais, como histórico de navegação na internet, registos de mídias sociais, transações financeiras e dados de localização de dispositivos móveis, permitindo identificar padrões de comportamento suspeito e prever possíveis ameaças à ordem estabelecida e identificar dissidentes ou monitorizar qualquer atividade considerada subversiva. Parece-lhe familiar?

Seria um retrocesso inimaginável, um retorno a um passado sombrio que nenhum de nós deveria desejar reviver. Portanto, enquanto celebramos, ano após ano, a data do 25 de abril de 1974, devemos também renovar nosso compromisso com os valores da liberdade, da justiça e da democracia. E, pensar o quanto estamos dispostos a ceder em troco de uma promessa de segurança, mesmo que seja apenas nas suas ruas. Somente assim podemos honrar verdadeiramente aqueles que lutaram e sacrificaram tanto para nos legar um Portugal livre e democrático.

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