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Artigo de Opinião

Investigador na área da Educação

11/01/2021 08:00

Mensurar sentimentos é deveras subjetivo. Mas, constitui um complemento útil -quando possível e seguindo parâmetros aceites por todos-, tendo presente que dados objetivos permitirão comparar a "qualidade de vida" de países. Por outro lado, os dados subjetivos podem fornecer uma avaliação pessoal da saúde, da escolaridade, dos rendimentos, da realização pessoal e condições económicas e sociais de uma pessoa. O apuramento, cruzado, diríamos, entre as pesquisas formuladas nestes domínios podem e internacionalmente são usadas para medir a satisfação com a vida dos cidadãos.

A este propósito a OCDE, através dos seus "Social Indicators", vem publicando o "Society at a Glance". O último, que podemos consultar, data de 2019. Aqui, podemos encontrar o indicador "satisfação com a vida", que mede como as pessoas avaliam a sua vida como um todo, em vez de sentimentos momentâneos de satisfação. Este, refere-se, assim, ao que as pessoas pensam, e como elas se sentem, sobre as suas vidas, os domínios de satisfação e os julgamentos globais de satisfação com a sua vida.

Quando solicitadas a classificar a sua satisfação geral com a vida, numa escala de 0 a 10 a média da OCDE cifra-se em 6.5. Entretanto, a "satisfação com a vida" não é igual em todos os países da OCDE. Alguns países - Grécia, Hungria, Portugal e Turquia - possuem um nível relativamente baixo de satisfação geral com a vida, com pontuações médias de 5.5 ou menos. Na outra extremidade da escala, pontuações alcançaram 7.5 na Dinamarca, Finlândia, Islândia, Noruega e Suíça.

Estes indicadores não refletem, no entanto, os efeitos nefastos que a terrível pandemia, que assolou o mundo em 2020, trouxe a variadíssimos níveis. Imaginamos, aliás, que mesmo os países com indicadores mais elevados de "satisfação com a vida", avaliando tudo aquilo que têm passado com o Covid-19 (casos dos países nórdicos, por ex.) hoje aquele "sentimento" estará uns pontos abaixo.

Entre nós, em Portugal, não obstante, assiste-se também, de forma mais profunda, ao facto de coincidir com aquilo que corresponde a que onde há mais disparidade neste indicador, "satisfação com a vida", alinhar com quem tem e quem não tem estudos superiores. Além disso, ainda, se cruzarmos estes indicadores com o "fosso" entre ricos e pobres, tal realidade ainda é mais considerável. Estima-se, que cerca de 20% da população rica ganha seis vezes mais do que os 20% da população mais pobre.

Tudo isto dá-nos, assim, um contexto social complexo, estrutural, do problema em Portugal.

Se nos dizem que 2021 coincidirá com aquilo que inevitavelmente terá de acontecer, que é recuperar da adversidade que nos assola. Então, a regulação e a intervenção públicas, mais do que nunca, continuam necessárias na educação, na saúde, na cultura, no desenvolvimento tecnológico, nos investimentos em infraestruturas relevantes -mas nestas áreas-, ancorados numa intervenção, que não apenas compense os desequilíbrios distributivos provocados pelo mercado globalizado, mas principalmente que capacite os agentes a competir a nível global.

Não esqueçamos, contudo, que todos os países terão estes desígnios como objetivo e, aqui, e uma vez mais, os mais e melhor preparados serão os sucedidos e todos os outros ficarão para trás.

Quando os políticos procuram entender como melhorar a qualidade de vida das populações, se medidas de bem-estar objetivo são necessárias; reveste-se determinante, contudo, complementá-las com efetivas medidas subjetivas que cheguem às pessoas e às suas necessidades.

Eduardo Alves escreve
à segunda-feira, de 4 em 4 semanas

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