Com os olhos ajoelhados à frente da lapinha, confrontados com a Esperança que nos nasce em casa, rezamos. Talvez o façamos sem intenção, nesta coisa de contemplar o que as nossas mãos ajudaram a construir. Talvez o façamos, sabendo que só o facto de a termos feito já é sinal de que acreditamos.
O Natal chegou cedo. Veio, como sempre, embrulhado em cores e luzes, apesar do calor de um verão fora de tempo. Veio com pressa, como vem tudo, nestes tempos de urgências. Veio na ânsia de desviar o nosso pensamento das dores do mundo, das nossas dores. Veio cedo.
Por um lado, foi bom. Tivemos tempo para fazer o que tem de ser feito em todos os natais – as limpezas, as decorações, as compras. Por isso, agora, talvez tenhamos tempo de o rezar. De o contemplar, ao menos, e perceber que há um Menino que nos lembra, todos os anos, que quer voltar a nascer na nossa casa (o lugar onde mora o nosso coração), uma Mulher, chamada Maria, que, cheia de coragem, disse que aceitava o abismo que o céu lhe propunha; um homem, chamado José, de coração imenso, que recebeu, na sua vida, um projeto de esperança que era superior ao seu entendimento; uns pastores que, no meio do silêncio da noite, ouviram o cantar dos anjos e foram à procura desse Lugar onde o Mundo amanhecia; uns reis que se puseram a caminho, atrás de uma estrela que lhes indicava a Esperança.
Rezar o Natal é contemplar esse mundo que, com as motivações de cada um, se constrói em nós e permitir-nos embevecer pelo encanto que as mãos (as nossas ou as de algum dos nossos) teimam em fazer acontecer. Rezar o Natal é pedir o que falta aos sapatinhos do mundo: paz, alegria, coragem. E é agradecer a esse Menino que chega (se bem que nunca deixe de se ir embora) a estrela que o céu nos envia, como lembrete, para nos dizer, outra vez, mais uma vez, que Ele é a esperança e que nós, eternos pastores a cuidar da vida, temos de acordar e de nos pôr a caminho.