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Artigo de Opinião

17/04/2022 08:10

As imagens daquilo que tem sido o terror naquelas terras tem-nos entrado todos os dias pelas nossas casas e, se pararmos para pensar um pouco no que se assiste, é impossível não revermos as nossas prioridades e aqueles que são os nossos dilemas. Alias, de que outra forma podia ser, quando vemos edifícios como os nossos, ruas como as nossas, automóveis como os nossos, em chamas, destruídos ou em ruínas? Podemos fechar os olhos, desligar a televisão, evitar toda aquela realidade, como fazemos com muito do que se passa no resto do mundo, leia-se, longe do nosso bairro, mas o mundo não para só porque não o queremos ver.

E é quando percebemos que tudo o que se passa lá fora irá, de uma forma ou de outra, influenciar a nossa vida, que devemos colocar as coisas em perspetiva. Porque hoje está tudo interligado e tudo nos afeta, nem que seja financeiramente, como começamos, a custo, a perceber.

E quando se coloca a nossa vida em perspetiva, perante tamanha crueldade que existe no mundo, tomamos consciência que é impossível desligarmo-nos e acharmos que viveremos a vida toda em ignorância sem que, um dia, essa mesma ignorância de repente não nos surpreenda e nos morda o rabo!

É certo que os nossos problemas parecem-nos sempre os mais importantes. E, de uma perspetiva pessoal, são mesmo porque são aqueles que nos afetam direta e diariamente. Mas quando os comparamos com a infinidade de outros problemas que afetam o cosmos deste planeta, será que se aguentam ao teste da dureza?

Em Portugal queixamo-nos de tudo e de nada. Problemas sérios como o desemprego ou o emprego precário, os salários baixos, o custo do nível de vida, a inflação, a subida das taxas de juro, do preço dos combustíveis e dos alimentos, estão na ordem do dia e com razão de ser. São problemas estruturais do nosso país e põem em causa a subsistência com dignidade de muitas famílias e que levam muitos jovens portugueses a procurar melhores alternativas noutros locais. Sem prejuízo são problemas que podem ter solução, com menor ou maior dificuldade, com mais e melhores políticas, com mudanças de mentalidade, mas são, acima de tudo, problemas correntes de um país onde a sua população, ao menos, vive em segurança e estabilidade social. Depois, quiçá fruto desta vida segura, vêm todos os outros problemas, maiores ou menores, globais ou particulares, que muitas vezes são impossíveis de levar a sério, como a vizinha do 3B que mete música aos berros, o sicrano que vai a 50 a hora na faixa esquerda da estrada, as crenças dos oposicionistas e negacionistas ou as causas dos politicamente corretos que, por pura demagogia, vivem julgando todo o resto do mundo segundo padrões irrealistas.

Felizmente nenhum destes portugueses tem de fugir da sua casa por causa de morteiros ou bombas que caiem no seu quintal. Felizmente nenhum português corre o risco de ser torturado e ir parar a uma vala comum com outros portugueses. Felizmente nenhuma mulher portuguesa, nenhuma criança portuguesa, incluindo bebés, corre o risco de ser uma vítima de violação em massa, com o objetivo de a tornar incapaz de se reproduzir num futuro próximo. Pois tudo isto se passa na Ucrânia. Onde todos os dias surgem relatos horrendos de crimes cometidos por pessoas contra outras pessoas, normalmente indefesas e fragilizadas, a pretexto de uma guerra entre dois estados. Homens e mulheres à solta, quebrando os limites da moralidade, sob o manto da impunidade, cometendo atos de pura malvadez, dos quais não há qualquer regresso, seja para o perpetrador, seja para a vítima. Quem fala na Ucrânia fala de outros locais no mundo, onde ocorrem atrocidades contra vidas humanas, da Síria aos Boro Hakam na Nigéria.

Não vos vou vender uma lenga-lenga à "kumbaya", nem é essa a minha intenção. Apenas, aproveitando este período que para os católicos é de morte (dos vícios e pecados) e ressurreição (a possibilidade de começar de novo), para dar graças a podermos viver com ‘apenas’ os nossos problemas e não aqueles problemas sérios de outras bandas, que nos entram na nossa vida em género informativo. E, com consciência que há sempre algo pior que o nosso dilema e que o universo não gira para nos tramar, talvez possamos concentrar os nossos esforços nas soluções e não nos problemas. Uma boa Páscoa.

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