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Artigo de Opinião

20/03/2024 08:00

A Madeira e em especial o Funchal, enfrenta o desafio contínuo de preservar a sua rica herança arquitectónica em complemento ao desenvolvimento urbano e às mudanças sociais. A arquitetura na região, marcada por elementos tão característicos como dispositivos de sombreamento, bambinelas, fasquiados entre outros, representa não só uma expressão estética, mas também uma relação de herança e de apropriação com o passado e a identidade cultural madeirense.

Muitos desses elementos correm o risco de desaparecerem devido à falta de consciência, à deterioração natural, às intervenções inadequadas nos edifícios históricos e mais recentemente pelas incompreensivas alterações legislativas. A preservação desses elementos no local é a abordagem ideal, pois permite que mantenham o seu contexto histórico e o valor simbólico, no entanto, por diversos motivos, na esmagadora maioria dos casos, essa acaba por não ser uma opção viável. Por oposição em diversas intervenções há uma vontade acrescida de recriar estes elementos, contudo tal operação torna-se extremamente dispendiosa e a sua reinterpretação apesar de bem intencionada é muitas vezes negada pelas autoridades com poder decisivo.

É perante este paradigma que a criação de um repositório de materiais arquitectónicos na Madeira poderia ser uma mais valia. É uma abordagem que tenho defendido com algum afinco e que aliás já foi testada no Porto com imenso sucesso. Este repositório de materiais poderia ser um espaço dedicado ao armazenamento, restauração e redistribuição desses elementos arquitectónicos, garantindo que não se percam para sempre. As cidades são organismos vivos em constante mutação e crescimento mas possuem uma identidade. Telhas de canudo, pavimentos em tacos de madeira, réguas de Riga ou de casquinha, portas ornamentadas, lambrequins, venezianas, fasquiados e outros elementos poderiam ser cuidadosamente restaurados por equipas especializadas (uma oportunidade para criar emprego e diversificar as áreas de atuação) e disponibilizados para venda (a um preço justo), oferecendo uma oportunidade única de reintrodução de elementos característicos em projetos de renovação e construção.

O repositório de materiais não se limitaria apenas ao armazenamento e venda de elementos restaurados, poderia também oferecer serviços de restauração para aqueles que possuem elementos nas suas casas que necessitam de cuidados, mas não têm conhecimento ou recursos para realizá-los. Por outro lado por meio de workshops e formações, o repositório capacitaria os membros da comunidade a preservarem os seus próprios elementos históricos, promovendo assim uma cultura de conservação e valorização do património arquitetónico da ilha.

A criação deste repositório de materiais arquitectónicos na Madeira não é apenas uma questão de preservar o passado, mas também de investir no futuro da ilha. Ao proteger e promover a sua identidade arquitectónica, a Madeira pode atrair visitantes interessados na sua história e cultura, fortalecer a sua economia local e garantir que as gerações futuras possam desfrutar e orgulhar-se das características construtivas presentes na ilha.

É hora de investir na preservação e divulgação do património arquitetónico da Madeira e garantir que a sua história e identidade não se percam nos meandros do progresso.

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