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Artigo de Opinião

Jornalista

5/08/2021 08:45

Eram pontos de encontro diário.

Sem máquinas de lavar ou água potável em casa, era aqui que as mulheres vinham lavar a roupa. Chegavam com banheiras em folha de zinco, carregadas de roupa de toda a casa.

Alguns destes lavadouros públicos eram improvisados junto a levadas ou córregos. Outros foram construídos de propósito para esse fim. Aqui já era uma coisa mais sofisticada, com outras condições para quem os usava. Eram inclusivamente cobertos. Davam outro tipo de conforto em dias de muito sol ou de chuva. Eram pontos de encontro obrigatórios que existiam nos sítios. Espaços comunitários que eram mantidos pelos moradores da zona.

Todos dias os vizinhos e as vizinhas do sítio encontravam-se nestes locais. Algumas pessoas até vinham de outras zonas das redondezas.

Chegavam logo pela manhã com as tais banheiras cheias de roupa. Algumas horas depois partiam com a roupa lavada e a conversa em dia.

Escusado será dizer que ao mesmo que se esfregava e se dava sabão se falava das novidades da zona que era comentada pelos presentes.

A "rede social" com vizinhos de vários pontos dos sítios circundantes funcionava na plenitude. É certo que os "gostos" e os "likes" eram outros, mas também aconteciam.

Cada uma trazia o seu "post", perdão, a sua novidade que logo colocava em discussão pública.

Não havia fotos nem vídeos, mas havia o mesmo que há hoje noutras redes: o elogio, a troça e também a maledicência. O "tribunal" também funciona ali. Por vezes outras mulheres e outros homens que por ali passavam também se juntavam à conversa.

A roupa lavada no local era levada para casa para colocar a secar. As peças que exigiam mais cuidado, sobretudo as de cor branca ficavam a "corar" por ali mesmo em cima da erva ou dos arbustos que estavam nas redondezas. Antes eram metidas numa banheira com água e com anil que lhe dava uma cor azulada. Quando o dia era de sol esta operação acabava por ser mais eficaz.

Com a evolução dos tempos os lavadouros públicos desapareceram. Alguns foram destruídos, outros ainda mesmo em ruínas ainda permanecem, porventura à espera que alguém olhe por eles pelo seu valor patrimonial e até turístico.

Naquela altura a rede social para os homens também existia, mas era outra. As tascas eram inevitavelmente os pontos de encontro privilegiados. Era ali que atrás de um copo os homens também colocavam a sua conversa em dia.

Estes pontos de negócio e também de encontro eram compostos por duas partes devidamente separadas. A parte da mercearia não se misturava com a parte do bar.

No bar imperava o "machismo". Ali praticamente as mulheres não entravam.

Um balcão de madeira, o chão em azulejos eram imagens de marca destes espaços. As horas de mais movimento normalmente aconteciam pela manhã bem cedo, mas sobretudo ao final do dia.

Depois duma jornada de trabalho estas "vendas" eram praticamente os únicos espaços de socialização da época.

Também era aqui que funcionava uma espécie de rede social. Por entre um vinho, uma cerveja ou uma aguardente ia-se colocando a conversa em dia.

Por vezes e para alguns a conversa só se concluía bem noite dentro. Em alguns casos passava-se da conversa para uma charamba à porta da "venda".

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