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Artigo de Opinião

Vice-presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz

6/03/2024 08:00

Com a proximidade do Dia Internacional da Mulher é inevitável, diria até mesmo obrigatório, que este meu artigo fosse uma reflexão/comemoração.

É que nesta luta já de décadas, posso afirmar que temos tanto de celebração como de orgulho e de luta.

Celebração e orgulho pelo que já conquistámos, e luta por todas as coisas ainda por conquistar: pelas incompreensões que persistem, pelas desigualdades que tardam a esbater, pela discriminação que ofende e que é injusta, por todos os direitos que as mulheres ainda não conquistaram, seja em países com regimes radicais, machistas e de pouco respeito pelos Direitos Humanos, seja nos países democráticos que fazem os mínimos no que concerne à igualdade para manterem um estatuto que ainda não detêm por inteiro. Ou seja, um estatuto que ainda deixa margem para tratamentos diferenciados, para diferentes salários em funções idênticas, para discursos machistas e paternalistas, para escolhas onde ser homem ainda é critério de seleção.

Ainda hoje, numa edição especial, o jornal Público revelava uma realidade que me é próxima, afirmando que no poder local o “lugar da mulher” ainda não é nos cargos de poder. Revelava o Público, que “mais do que em qualquer outro nível de governo, o poder local é terreno fértil para a desigualdade de género. Dos 308 municípios do país, apenas 29 são liderados por mulheres: 9,41%. Nas freguesias, os números são da mesma ordem.” Um cenário que a lei da paridade não alterou e que, segundo aquele jornal, se fica a dever às escolhas dos partidos, a estereótipos e a um caminho que ainda é longo para uma mudança efetiva.

Adiantava a mesma publicação que nas últimas eleições autárquicas de 2021 houve mesmo um retrocesso: “foi a terceira vez em democracia que o número de presidentes de Câmara mulheres caiu e a primeira desde que a lei da paridade entrou em vigor.” Ou seja, a Lei da paridade ainda não é um valor, e os partidos limitam-se a cumprir os mínimos.

Além de que a própria lei não é, ela mesma, totalmente paritária, já que deixa de fora da alçada da paridade muitos dos poderes políticos importantes, como são a Presidência da República, os governos nacional e regional, a presidência da Assembleia da República, as presidências de Câmara, de juntas, das assembleias municipais.

Ou seja, ainda há muita luta por travar e muito caminho por desbravar para combater o preconceito e as desigualdades.

Apesar de termos já alcançado uma lista generosa de direitos, a igualdade de oportunidades e os exemplos de valorização da figura feminina ainda são contidos e resultado de muita resiliência e capacidade de superação extraordinária das próprias mulheres.

Creio que ainda somos nós as mulheres as únicas a reconhecer o quanto especial é ser mulher, o quanto o nosso contributo pode ser diferenciador, o quanto o nosso trabalho pode trazer valor acrescentado seja qual for o plano onde intervimos.

E esta diferenciação deve-se à nossa capacidade de trabalho, de ouvir, de cuidar, de sentir. Empatia e pragmatismo são algumas das qualidades que nos colocam numa posição privilegiada e de assinalável capacidade para construir pontes, que sabemos serem cada vez mais necessárias num mundo de desigualdades várias e de injustiças reiteradas.

Não reclamamos superioridades, mas apenas igualdade e valorização das nossas capacidades. Lutamos por um mundo que não tenha no género uma condicionante ou um valor acrescentado, quando estamos a falar de mulheres e homens respetivamente.

Que nos saibamos avaliar sobretudo como seres humanos em igualdade de circunstâncias e a nossa humanidade diversa seja a ponte para um mundo cada vez melhor.

Por isso, bem hajam as mulheres que se desafiam e superam a cada dia, bem hajam as mulheres que se apoiam umas às outras, bem hajam os homens que se orgulham e apoiam as mulheres das suas vidas!

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