Escrever sobre o Natal é tentar colocar em palavras a intensidade de sentimentos e vivências desta época, que tem sofrido alterações ao longo do tempo, transformando-se numa quadra de excessos, com muito investimento no brilho exterior, na correria desenfreada que gera grande pressão para corresponder às expectativas e obrigações de um Natal perfeito, dos anúncios e publicidades. Mas no meio de tudo isto, onde fica o verdadeiro sentido do Natal?
O Natal é antes de mais, a celebração do nascimento do Menino Jesus, com toda a história e mensagem que envolve. Mas, independentemente das crenças religiosas, o Natal pode ser um convite à reflexão para todos nós: “olharmos” para os valores que nos orientam e à forma como vivemos. Olhar para dentro é sempre um bom caminho para o crescimento interior e evolução pessoal. Esta época também nos convida a reconhecer a importância das pessoas especiais da nossa vida, da família, dos amigos e de outras pessoas significativas, que escolhemos com o coração.
Se eu pudesse dar vida a uma história sobre um Natal mais consciente, ela seria contada assim: era uma vez...um Natal que nascia silencioso no interior de cada um, movido fortemente pela proximidade humana, pelos afetos, empatia, humildade e amor. É preciso repensar o consumismo, evitar as compras por impulso, os gastos excessivos e diminuir os sentimentos de tristeza de quem não tem possibilidade financeira para acompanhar as exigências da época. Os presentes mais importantes seriam imateriais – reforçar os vínculos afetivos, dedicar tempo a alguém, lembrar dos idosos, de quem está solitário, organizar momentos para juntar famílias ou amigos. O que poderá ter mais valor no tempo do transmitir as tradições familiares que ligam as gerações? Uma oportunidade para adultos e crianças desligarem dos telemóveis e dos tablets, partilharem momentos de união, conhecerem as histórias da família, que não precisam de publicações no feed das redes sociais, mas que podem ser vividos com presença genuína.
No Natal há a tradição de organizar bem a casa, de arrumar armários, fazer as devidas limpezas e eliminar o que não precisamos. Estes hábitos estão também relacionados com uma necessidade emocional de rever o ano que está quase a terminar, agradecer e valorizar o que queremos manter, mas também perdoar e libertar o que já não faz sentido, nas diferentes áreas da nossa vida. Dessa forma, não apenas vivemos melhor esta época, como também garantimos um próximo ano mais feliz e harmonioso.
Emocionalmente, o Natal proporciona vivências intensas, por vezes, marcadas por acontecimentos desafiantes do ano (perdas, lutos, doença, desemprego, dificuldades socio económicas, etc) que fazem acentuar sentimentos de tristeza, saudade ou até mesmo revolta. É fundamental entender e respeitar estas emoções, sem pressão para viver de acordo com os padrões que a sociedade impõe, adotando formatos mais íntimos e tranquilos de vivenciar este mês.
Era uma vez um Natal...vivido com consciência. Feito de gestos simples que aquecem o coração, celebrado com proximidade afetiva e vivido de forma especial, no seu verdadeiro sentido.