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Artigo de Opinião

silviamariamata@gmail.com

13/02/2022 08:00

O marido foi aquele eterno emigrante na Venezuela que nunca mais voltou. Ela ficou. Arregaçou as mangas e foi digna da vida que Deus lhe deu. Fazia parte das nove. Vivia para as nove. E as nove eram irmãs de sangue e de coração.

Um dia tiveram um grande desgosto. Era uma dor tão grande que não podiam com ela sozinhas! Choraram-se! Limparam-se as lágrimas e incluíram os maridos no desgosto, esperando deles a solução limpa de emoções e viraram-se com afinco para a resolução musculada daquele desgosto sem nome.

O que fazer agora? Um homem não sabe fazer nada!

Sim, uma delas, a segunda das nove, partira sem aviso. Era ainda muito cedo para abandonar o grupo das nove! Que injustiça! Uma doença dos Retornados de África, o paludismo, rapou-lhe a vida sem dizer nada a ninguém, o marido sozinho numa casa que parecia gigantesca sem ela lá dentro, com os filhos jovens adultos idos para a Venezuela na fuga da guerra do Ultramar.

Está decidido! Iam arranjar casamento para o cunhado recém viúvo. Fecharam os olhos ao coração e avançaram à cautela.

"O mestre J. tem de arranjar uma mulher que lhe lave a roupa e lhe faça o comer". Disseram todas juntas àquele que era como um irmão mais velho. "A gente tem a roupa para lavar. O marido para aprontar. Os pequenos e as pequenas para mandar para a escola. O comer para fazer. O bordado para aviar!" Ele concordou.

Começaram elas a destinar a vida do viúvo. "O mestre faz assim e faz assado". Ele a tudo obedecia e ria.

Jantava em casa de uma das oito e alongava-se pela noite dentro à roda da mesa a falar conversas de preguiça gostosa com os sobrinhos à volta. Tudo na paz do Senhor. Meia volta lá vinha o sarilho da conversa "O mestre J. tem de arranjar uma mulher que lhe lave a roupa e lhe faça o comer que a gente não pode". E ele, entre tímido e a sorrir atrevido, jogou um nome para o ar.

Era a Lúcia. Bom partido. Quarentona solteira sem que se lhe tivesse conhecido nunca noivo a rondá-la. Lá isso é verdade! Mas não! "A Lúcia deu um puxão de orelhas na nossa pequena só por ela ter tocado na campainha da prima Maricó". A Lúcia, a primeira a ser riscada pelas oito.

Foi quando a sétima das oito se encheu de coragem e pediu em casamento para o cunhado Luisinha do Deixa-Arder! Luisinha aceitou na sua vaidosa voz, polida e cantada, com uma condição: "Eu quero uma casa".

Tornou a mensageira com a sentença de Luisinha e conferenciou com todas as outras sete e os sete maridos na casa de portas e de janelas fechadas. "Não pode ser! Então o mestre J. tem uma casa e vai-se meter a fazer outra casa?" Cá nada! E Luisinha do Deixa-Arder foi a segunda a ser riscada da lista. Fica-te quieta para aí! Não tenho idade para isso.

Lá foi o mestre J. a Santana com os cunhados no Toyota do mestre Rui. E o mestre J. perguntou a uma vendedora de segurelha, na beira da estrada, se queria casar com ele. E foi quando a mulher se levantou do banquinho e deitou a correr atrás dele a insultá-lo de velho tonto. "Queres comprar segurelha ou queres te casar?"

Nesse dia à noite, todos riram. Até o mestre J. ficou vermelho de tanto rir.

E vai daí, não vais a bem, vais a mal, foi quando o marido da sétima, na função da matança de um porco, falou do cunhado viúvo a uma solteirona quarentona. E ela que sim.

Prepararam-se as coisas. As oito atentas a tudo. Veio o dote dela. Não era bom. Não mostres isso a ninguém! Veio a cacaria das flores dela. Não era bom. Joga isso tudo para dentro do ribeiro! Veio o mostrar do ponto no bordado. Não era bom. Desmancha isso tudo! Veio o arranjar da roupa do marido. Não era bom. Apronta outra vez! Veio o destino da ceia. Não era bom. Teu marido vai ficar maldisposto! Mas que tonta!

- "Que diacho! Malditas oito! São uma rede pior que bruxedo! Era melhor ter ficado solteira!"

- Não era bom! Está bom assim!

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