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Artigo de Opinião

5/09/2023 06:00

Desde logo, CS Marítimo e Marítimo SAD são duas entidades completamente distintas. A primeira existe desde 1910, é uma associação desportiva de interesse público, sem fins lucrativos, com estatutos próprios, dedicando-se à prática de várias modalidades, entre as quais o futebol. Já a SAD do Marítimo existe desde 1998 e foi criada ao abrigo do Decreto-Lei n.º 67/97, conhecida como a Lei das SADs, que tornou obrigatório que apenas Sociedades Anónimas Desportivas (SADs) ou sociedades desportivas unipessoais por quotas (SDUQ) pudessem participar nas competições profissionais (1ª e 2ª liga). Nesse âmbito, inicialmente o CS Marítimo detinha 40%, o Governo Regional 40% ficando 20% reservado para pequenos acionistas, o que se manteve inalterado até 2014, data em que o clube se tornou detentor de cerca de 91% das ações da SAD.

Atualmente, todo o património imobiliário é do clube. Estádio, complexo, etc. A SAD do Marítimo gere os rendimentos da participação no futebol profissional, nomeadamente a televisão, receitas das competições, ativos desportivos, etc. A relação entre ambos é societária, sendo o CS Marítimo detentor da maioria das ações da SAD e principal acionista.

Ora, tendo isto presente, o que está em cima da mesa, conforme tornado público, é a aquisição por parte de uma entidade externa ao clube e SAD, de uma percentagem das ações que aquele possui na SAD. Não se trata de adquirir/vender o clube, até porque tal não é legalmente admissível já que é, por natureza e estatuto jurídico, intransmissível.

E porquê o interesse em adquirir parte da SAD do Marítimo? Porque na realidade, o grosso da receita advém da atividade da SAD. É esta que gere o futebol profissional do Marítimo. Porque é esta que pode participar nas ligas profissionais de futebol. E, como tal, é daqui que vem a vontade de investir, porque é daqui que virá todo e qualquer retorno comercial e financeiro.

Digo-vos desde já, para que não existam quaisquer dúvidas, sou absolutamente favorável a esta realidade (não confundir com propostas). Há muito tempo que olho para a Premier League como a referência máxima do que é um excelente funcionamento do clube/empresa/adeptos naquilo que é hoje o negócio do futebol. Nenhum dos 20 clubes que jogam a divisão máxima em terras de Sua Majestade, são detidos pelos sócios. Liverpool, Arsenal, Crystal Palace, Fulham, Chelsea e Man United são detidos maioritariamente por americanos. Man City, Newcastle, Everton, Sheffield, Aston Villa, por árabes. São proprietários e investidores de peso, com capital próprio, que têm permitido os clubes ingleses se tornarem uma força dominante no universo europeu. Para termos uma ideia, basta perceber que o Nottingham Forest, propriedade do magnata grego Evangelos Marinakis, em 22/23, naquela que foi a sua época de regresso à PL, gastou a módica quantia de cerca de 300 milhões de euros para reforçar a equipa. Esta realidade financeira permitiu à própria PL reforçar chorudamente os prémios e os contratos televisivos, e assim criando condições ao crescimento dos clubes. E, como podemos ver pela televisão todos os fins-de-semana, sem que tal signifique estádios vazios ou clubes sem adeptos.

Esta é hoje a realidade incontornável do mundo do futebol. Ou aceitamos ou iremos continuar a definhar no orgulhosamente sós.

Naturalmente que os interesses do clube têm de ser defendidos. Qualquer proposta tem de ser profundamente analisada. Os potenciais investidores têm de estar perfeitamente identificados, ser conhecido o seu background, e oferecerem garantias de conhecimento e apresentarem planos de negócio que sejam adequados à SAD em questão e ao contexto em que está inserido. A proposta deve conter como pretendem rentabilizar os investimentos que fazem e como querem que a SAD que vão gerir seja competitiva, de forma sustentável e sustentada. Qual a política desportiva, que forma assumirá e quem liderará essa implementação. Que mercados apostam e qual o papel da formação nesse processo. São apenas algumas das questões relevantes que terão de ser esclarecidas aos sócios para que estes possam votar em consciência. E porque não é despiciendo, saber qual o panorama atual do clube e da SAD e quais as vias alternativas à não entrada de capital dominante.

Mas, em qualquer caso, o CS Marítimo nunca deixará de ser acionista relevante da SAD e beneficiará da distribuição de dividendos da SAD entre os acionistas. Não está aqui em causa vender o clube e é de má-fé insistir nessa ideia. O clube pode ser nosso, mas o futebol é de todos e a cada dia que passa vamos ficando mais para trás.

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