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Artigo de Opinião

11/12/2023 07:30

A corrupção, sobretudo no âmbito político, é um fenômeno complexo enraizado em diversos fatores. Abordar esse problema exige uma compreensão profunda das dinâmicas que o alimentam. Enquanto muitos defendem a criação de instituições e regras mais rígidas para combater a corrupção, a solução pode estar em uma abordagem mais holística, focada na conscientização pública sobre os perigos desse comportamento corrosivo.

De facto, se olharmos apenas para o nosso país, apesar da diversa regulamentação publicada nos últimos anos, através da Estratégia Nacional Anticorrupção, um novo regime de exercício de funções políticas e de altos cargos públicos, de códigos de conduta para governantes e deputados, da introdução de um questionário de avaliação de idoneidade de governantes à entrada do cargo, e da criação de novas instituições como o Mecanismo Nacional Anticorrupção (MENAC) e a Entidade da Transparência, a verdade é hoje estamos perante um Governo demitido por suspeitas de tráfico de influências, que envolve o chefe de gabinete e o melhor amigo do primeiro-ministro, e com o próprio Presidente da República envolvido num caso suspeito de favorecimento, em resposta a um pedido do seu próprio filho.

A corrupção no meio político é um fenómeno que resulta essencialmente da correlação entre três pontos: Oportunidade, Pressão e Tentação.

Desde logo, a corrupção prospera quando há brechas no sistema, oferecendo oportunidades para práticas desonestas. Políticos envolvidos em esquemas corruptos muitas vezes exploram falhas estruturais que facilitam a manipulação de recursos públicos. A criação de instituições para fiscalização pode ser um paliativo, mas não resolve o cerne do problema: a oportunidade constante de agir de forma corrupta.

Por outro lado, muitas vezes os políticos enfrentam pressões significativas, seja por questões de financiamento de campanhas, grupos de interesse ou mesmo para atender expectativas de eleitores. Essas pressões podem levar a decisões antiéticas quando não há um entendimento sólido dos princípios éticos e morais que deveriam guiar a ação política.

Por fim, a tentação de utilizar recursos públicos em benefício próprio ou de terceiros é uma realidade difícil de erradicar. O desejo de ganho pessoal muitas vezes supera o compromisso com o bem comum. Criar regras mais rígidas pode oferecer uma barreira temporária, mas a verdadeira mudança ocorre quando a tentação é substituída por uma consciência moral robusta.

Pelo que, a melhor e maior forma de combate contra este flagelo é mesmo a Educação. De uma forma geral, a educação da população é o pilar fundamental para garantir o seu futuro e, no que concerne ao fenómeno da corrupção, é através da criação do sentimento comum de que estes atos são nocivos ao bem comum, ao bem-estar de todos, à economia livre e concorrencial e ao erário público, e que criam clivagens entre a população que são difíceis de ultrapassar e que dão azo às vozes e aos movimentos mais extremistas.

A educação sobre ética e responsabilidade começa em casa. A transmissão de valores como honestidade, integridade e empatia desde a infância é essencial para formar cidadãos conscientes. Os pais desempenham um papel crucial na criação de uma base ética que guiará as escolhas de seus filhos ao longo da vida. As Instituições de ensino também têm a responsabilidade de promover uma educação que vá além dos currículos académicos, abordando questões éticas e morais. A introdução de disciplinas que incentivem a reflexão sobre cidadania, responsabilidade social e ética política pode moldar uma geração mais consciente. Por outro lado, a informação permanente da população sobre os efeitos devastadores da corrupção no desenvolvimento social, económico e político cria uma sociedade mais vigilante e resistente à tentação de práticas corruptas.

Combater a corrupção não é uma tarefa que possa ser delegada apenas a instituições ou gabinetes ou à criação de regras mais severas. É uma jornada coletiva que requer uma mudança cultural. Ao fortalecer a educação, desde os alicerces familiares até as instituições académicas, é possível criar uma consciência coletiva que rejeite a corrupção como prática aceitável. A verdadeira mudança ocorre quando a sociedade como um todo reconhece os perigos da corrupção e se compromete ativamente a erradicá-la, tornando-se uma força coesa em prol do bem comum.

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