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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

18/07/2021 08:00

Comemora-se este ano o segundo centenário da morte de Napoleão, francês. nascido na Córsega, exilado na ilha de Santa Helena, onde morreu a 15 de maio de 1821, triste, prisioneiro e desterrado.

Na sua desconfortável viagem, imposta pelos soberanos legítimos do grande conflito europeu, Napoleão ancorou no porto do Funchal, mas não pisou terra madeirense. Por compaixão e respeito para com o glorioso vencedor de tantas batalhas, amado e admirado por muitos e odiado e repelido por outros, como aconteceu em toda a história universal, as autoridades ofereceram-lhe uma pipa de saboroso vinho Madeira, que levando-a consigo nunca a abriu, talvez desconfiando que o líquido estivesse envenenado. Após a sua morte voltou a pipa a Paris e, passados muitos anos, foi aberta e alegrou o paladar dos que saborearam o precioso néctar.

Em Paris, num dos mais belos e faustosos monumentos da cidade das luzes, repousa rodeado dos atuais chefes militares, na paróquia de São Francisco Xavier, santo que foi conquistado por Santo Inácio de Loiola para deixar o Mundo e seguir a vocação excelsa de consagrado a Deus. Foi também nesta grande paróquia que coloquei vários padres madeirenses a estudar as ciências eclesiásticas, quando era responsável pelo milhão de migrantes portugueses que, saídos da pátria, eram objeto da caridade pastoral dos padres portugueses e franceses.

Este ano, tanto em França como na Itália, os estudiosos debruçam-se sobre a verdadeira glória de Napoleão, porque a sua figura suscita ainda hoje muitos debates, opiniões, admiração e condenação.

Segundo o profeta bíblico Isaías, a glória do homem, e a vontade de Deus, é transformar as lanças em foices, e não em bombas mortais.

A sensibilidade atual não se deleita a celebrar os grandes combatentes do passado nem as glórias militares. Não se pode esquecer também que Napoleão difundiu no continente europeu a cultura e as instituições europeias, as reformas legislativas, os princípios da igualdade, a liberdade de consciência, de pensamento e de religião, a laicidade e o Estado de direito, e criou nos países conquistados as bases do Estado Moderno, com uma administração simples e racional.

Contudo, durante o seu consulado, uma das suas palavras preferidas era: "Eu só sou o representante do povo!". É considerado "um comandante genial, um homem de Estado excecional, com muitas virtudes e outras tantas debilidades."

Napoleão declarou que a República francesa via o Mediterrâneo como o seu mar e queria dominá-lo. Tomou de assalto o Egito, primeiro Alexandria, depois o Cairo onde entrou vitorioso, mas a frota inglesa do almirante Nelson tornou-se o senhor absoluto do Mediterrâneo. Napoleão, porém, vai ganhar no plano histórico e cultural.

O Egito estava dominado por um mundo islâmico atrasado e exótico, Napoleão levou novas ideias. Desembarcou no Egito levando consigo um exército de 36.000 sábios, arqueólogos, arquitetos, geógrafos para traçarem mapas, históricos para estudar a preciosa e antiga cultura egípcia, decifraram os hieróglifos com o encontro da pedra de Roseta. Napoleão era um erudito e sabia da importância do conhecimento. O resultado foi que, o Egito julgado um pais ignorante e atrasado, afinal tinha uma cultura preciosa e multisecular, os intelectuais europeus descobrem que existia um mundo antigo, sábio, misterioso e fascinante. Nasceu a Egiptologia.

Napoleão conquista agora a sua grande vitória, diz que: "havia conduzido as ciências e as artes de volta ao seu berço", não no terreno militar, mas no cultural, aquele que enriquece a inteligência e a verdadeira cultura humana. O material estudado, as inscrições copiadas, as múmias, foram infelizmente levadas para Museus estrangeiros, mas a Esfinge e as Pirâmides permaneceram, ao contrário dalguns monólitos que vieram ornamentar praças e jardins, até um na Praça de São Pedro em Roma, tendo colocando no alto, relíquias de santos.

Nas peregrinações à Terra Santa, na antiga cidade de Jope, junto ao mar, onde Napoleão também passou, pequenas estátuas dos seus soldados enfeita uma praça; no monte Carmelo, Napoleão deixou soldados doentes que eram curados pelos religiosos carmelitas; guerreiros árabes descontentes, assassinaram uns e outros e um vasto túmulo indica o lugar onde esperam a feliz ressurreição. Quem relembra Napoleão na Madeira? e o Titanic? e o Padre Portal e Lord Halifax? E tantas outras figuras históricas? Onde está o Museu da Cultura?

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