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Artigo de Opinião

Não é de espantar. Ao longo dos anos, têm-se privilegiado posturas paternalistas por parte de alguma classe política, apostando-se na perspetiva do "deixem a política connosco, que é para isso que cá estamos". E muitas pessoas têm preferido deixar-se embalar nessa doce ilusão de que os outros sabem melhor o que é bom para nós, acordando tarde para alguma desilusão que vão sentindo.

Esta poderá ser a ocasião para que cada um de nós altere a sua postura na construção do mundo que deseja. Curiosamente, do outro lado do oceano, na tomada de posse de Joe Biden, uma jovem trouxe ideias de esperança e compromisso na criação de um país novo, unido e com esperança no futuro. Refiro-me a Amanda Gorman. Tive oportunidade de ver e ouvir o poema da sua autoria e também a entrevista curta que deu ao jornalista da CNN, Anderson Cooper. Devo dizer que fiquei rendida a esta jovem poeta. 22 anos de sabedoria, talento e reflexão. Ao jornalista disse que a esperança é algo que temos de exigir de nós próprios e não dos outros. No final do seu poema afirma: "Uma nova madrugada floresce enquanto a libertamos. Porque há sempre luz se formos suficientemente corajosos para a ver, se formos suficientemente corajosos para o ser".

Retenho os conceitos que realça: coragem e compromisso para se obter algo positivo. Acabámos de sair de uma campanha eleitoral. Tornaram-se visíveis opiniões e causas que se pensava corresponderem a valores do passado. Percebemos que não. Há pessoas que defendem a democracia só para "gente de bem". Quem o não for, fica de fora. Percebe-se que há quem defenda que a melhor arma para combater o regresso da ditadura é o silêncio e o fingir que nada se passa. "Deixá-los falar! Isso não interessa nada!", dizem. Mas as palavras são importantes. Eugénio de Andrade escreveu: "São como um cristal, as palavras. Algumas, um punhal, um incêndio. Outras, orvalho apenas". Parece-me que estamos a viver tempos de palavras como punhais e incêndios. Viu-se isso na tentativa de rebaixamento de Marisa Matias e de todas as mulheres, no famoso episódio do baton vermelho. O que aconteceu no Capitólio, EUA, a 6 de janeiro de 2021, foi igualmente originado em discursos de ódio e notícias falsas, fazendo recair a culpa dos erros nos outros e criando um ambiente de extrema violência e falta de respeito.

Vivemos tempos aparentemente mornos, mas perigosos, que exigem de cada uma ou um de nós coragem para se envolver e assumir as suas responsabilidades. Unir e valorizar equipas ajudará a ultrapassar dificuldades, conseguindo envolver a população nas soluções para os problemas que surgem. Investir na cultura potenciará não só o desenvolvimento económico, mas também a consciencialização individual, ajudando-nos a sair da apatia e a percecionar que todas as pessoas são importantes na construção do futuro que desejamos. "A quietude nem sempre significa paz (…) as normas e noções do que é justo, nem sempre significam justiça". "Não marcharemos para o que já fomos, mas para o que seremos", escreveu a jovem Amanda Gorman. Não sei se gostaram de a ver, mas eu adorei o brilho que ela tem, o pensamento que a ilumina, a força que a poesia dela me trouxe.

* Amanda Gorman

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