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Artigo de Opinião

CULTURAS GLOBAIS E CRIATIVIDADE

29/01/2022 08:00

Deixo-vos uma reflexão acerca do orgulho, com elevação e respeito, de ser nascido na Ilha da Madeira, misturado com desejo, esperança e apreensão em relação ao longo-prazo da "nossa" terra.

Insisto e insistirei numa necessidade de todos reflectirem sobre o futuro da Ilha, não apenas no que toca ao curto-prazo, mas, também, no que concerne o longo-prazo. Países há que nem 100 anos de existência possuem e já se unem no consenso de terem uma identidade própria, uma autenticidade, uma cultura; mesmo que o cenário cronológico seja o de um mundo global com imensos cruzamentos culturais, tendências, formas de estar entre outras dinâmicas. 600 anos de História não são brincadeira. Israel e Estados Unidos, a título de exemplo, são nações sedimentadas sem esse impacto temporal. Na Madeira, o tempo de glória que se vive em notoriedade internacional, o orgulho que se tem, custou vidas, suor, lágrimas, emigração, muito e árduo trabalho de séculos.

Hoje escrevo também para puxar o peito e orgulho Madeirenses para cima. Historicamente, a Ilha nunca se deixou "domar", tendo inclusive existido momentos em que nos tivemos de valer com os nossos escassos recursos. A Madeirensidade, tem assim, razão de ser. Claro que descendemos de outras culturas do passado, mas crescemos e arrepiámos caminho. Como um filho que cresce e se emancipa, assim foi e é a História da Ilha. Cada um saberá o que é ser Madeirense e saberá caracterizar-se ou talvez seja outra útil reflexão: O que é ser Madeirense nos hodiernos dias?

Vivemos uma época de explosão da notoriedade da Ilha, desde o fundo do mar aos picos mais altos. Sempre fomos recanto de relações internacionais e sempre com tal soubemos lidar. Há um lado glorioso, há um lado económico inevitável. Uma "montanha" no Atlântico não se vale sozinha. Somos hospitaleiros e temos uma necessidade natural de ser visitados e isso é bonito. A corrente actual, de todo o modo, não permite que se pare para pensar. Reina a mentalidade do curto-prazo.

Existirá também o perigo da conhecida expressão "casa da Maria Joana"? Seremos a Madeira Maria Joana? Ou por outras palavras, existirá o perigo do Colonialismo Fashion? Muitos recantos da Ilha relegaram o Madeirense para segundo plano e isso acentua-se. Muitos nos visitam com elevação, carinho e com respeito. Espero ser a regra. Outros nos visitam cheios de exigências, recomendações, reparos, apontando insuficiências, dizendo que "são muito difíceis de impressionar", uma espécie de pressão negativa. Ouvimos de tudo e vejo sempre como oportunidade de aprender, melhorar, mas… Um grande amigo Sueco, que nos visita regularmente, diz-me sempre que espetada e poncha são as melhores coisas do mundo, mas por cá não há molho sueco e às vezes dá vento no Paúl do Mar. Respondo-lhe que sei bem que se vive no tempo da "perfeição", mas que na Suécia não há poncha nem espetada, o que é inadmissível dessa perspectiva perfeccionista.

Ora, deixemos que nos visitem, que venham, claro que sim senhora e sim senhor, mas deveremos perder o orgulho e dignidade no que somos para nos rebaixar? Ou deveremos subir o nível e não deixar que o rasto colonial persista? Madeira Maria Joana e Colonialismo Fashion traz-me muitas dúvidas. Agora mais em tom de brincadeira, eles vêm pintadinhos, arrumadinhos, rapadinhos, mas ainda existe a Dona Maria a agricultar na Boaventura dando um bom-dia genuíno e de coração e o pescador da Madalena do Mar, de camisa aberta, descansando o almoço à sombra da bananeira.

Como estocada:

"Madeira tão tua" ou "Alto e para o baile"?

Boas reflexões.

Até…

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