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Artigo de Opinião

9/10/2021 08:01

Ao longo dos últimos anos, Maria Ressa, nas Filipinas, e Dmitri Muratov, na Rússia, têm lutado de forma consistente, corajosa e militante pela liberdade de expressão e pela verdade. Também por isso, o Comité escolheu os seus nomes enquanto representantes de todas as mulheres e todos os homens que, no exercício da profissão, tomam «uma posição firme na defesa deste ideal, num mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas» a esse exercício.

Maria Ressa tornou-se, em 2012, cofundadora e diretora da plataforma noticiosa digital Rappler, que faz jornalismo de investigação, denunciando o uso da violência e o autoritarismo crescente nas Filipinas. Um dos seus alvos tem sido a infame lei antidrogas que permite à polícia executar sumariamente e atirar a matar sobre suspeitos de tráfico de droga, sem qualquer julgamento. Para além dos números assustadores de vítimas desta campanha, tem denunciado o uso de notícias falsas, assédio aos adversários políticos e manipulação da opinião pública, por parte do regime de Duterte.

Dmitri Andreievitch Muratov, foi cofundador do jornal «Novaja Gazeta» em 1993, o jornal mais independente da Rússia, do qual se tornou editor-chefe, em 1995, durante 24 anos. O jornalismo factual do «Novaja Gazeta» tornaram-no numa das fontes mais confiáveis no que diz respeito aos aspetos mais questionáveis da sociedade russa (muitas vezes ausentes noutras publicações), tais como corrupção, violência de estado, prisões ilegais, fraude eleitoral e as chamadas «fábricas de "trolls"» usadas pelos militares e serviços secretos, dentro e fora da Rússia.

É de realçar o preço que custa a liberdade de imprensa. Maria Ressa foi presa em 2019 por um suposto crime de difamação cometido em 2012, com base numa lei que só surgiu quatro meses depois da publicação… Quanto a Dmitri tem testemunhado o assédio, ameaças, violência e até assassinato (seis jornalistas, incluindo Anna Politkovskaja) a que se sujeita qualquer jornalista no "Novaja Gazeta". Apesar disso tem-se mantido firme na defesa da liberdade de expressão, desde que em conformidade com os preceitos éticos e profissionais do jornalismo.

Cito uma vez mais o Comité quando diz que «O jornalismo independente e factual presta um enorme serviço contra o abuso de poder, mentiras e propaganda de guerra» e que está convencido de que «a liberdade de expressão e de informação ajudam a garantir que a opinião pública está informada» condições essenciais para a existência da democracia e, consequentemente, na proteção da paz e da fraternidade entre as nações.

Ao longo da história temos assistido à importância de um jornalismo isento, baseado em factos, investigando-os e confirmando-os sempre que necessário como condição de garantia da Democracia e da Liberdade. Mas o inverso não é necessariamente verdade. Por vezes podemos cair na tentação de achar que, por vivermos em democracia, o jornalismo é isento, livre e factual, mas esse é um erro que a história também já demonstrou que nos pode sair muito caro.

É precisamente quando achamos que podemos baixar a guarda que não o podemos fazer. Cada vez mais precisamos de um jornalismo comprometido com a verdade, responsável e vigilante. Um jornalismo ético, que vá muito para além da gestão de notas de imprensa. Precisamos de jornalistas profissionais, pagos condignamente, para quem o topo da carreira não seja uma assessoria de imprensa.

Maria e Dmitri são figuras que devem servir de exemplo tanto a qualquer aspirante a jornalista como a quem já possui carteira profissional.

Tal como o Comité Nobel, hoje presto a minha homenagem à nobre profissão de Jornalista e a quem nunca desiste da responsabilidade de a exercer.

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