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Artigo de Opinião

AQUINTRODIA

28/02/2021 08:00

Faltou-lhe a ousadia da negociação…e uma geração pagou.

Passaram a ser frequentes as levas de jovens, em início da terceira década de vida, subindo desconfiados aos navios que os transportariam aos infernos, trepando aos mastros e assomando às varandas, para acenar a familiares e noivas em lágrimas, a incerteza do amanhã.

Abarrotaram-se navios e aviões de contingentes de miúdos pouco preparados para a «missão» que obrigatoriamente carregavam nuns ombros de 20 anos.
Começou assim a Guerra do Ultramar, que mobilizou muitos milhares de jovens, obrigados a abandonar projetos de realização pessoal, suspender formações, cancelar casamentos, rejeitar trabalhos, enfim: adiar a vida!

Em breve, todas as «Províncias Ultramarinas» eram palco duma guerrilha que destroçava um País em ditadura.

A DURA FACE DA GUERRA

Quando os hospitais militares receberam às centenas os estropiados, quando o Alcoitão se encheu de miúdos paraplégicos ou tetraplégicos, quando a todo o País chegavam urnas com restos mortais de jovens, que haviam acenado até o seu regresso, o País começou a vestir-se de negro.

Rapidamente, os nossos guerreiros à força viviam a angústia das emboscadas, a incerteza de voltar duma operação, a dolorosa experiência de pisar a mina que, ou ceifava a vida, ou truncava e amassava um corpo tornado inútil.

Os miúdos de ontem faziam-se homens pela vivência de momentos cruéis de solidão, de perigo, de arrojo, de dor, de saudade, de incerteza.

Descobriram que só solidários se safavam. Selaram-se amizades para a vida…

Muitos trouxeram o stresse pós-traumático, como companheiro permanente de vida e atitudes.

UM CAPELÃO
QUE CONTINUA EM MISSÃO.

O Padre António Simões, madeirense e Capelão em muitos lugares de guerra, passado à disponibilidade, vem organizando Encontros de Militares Madeirenses que Serviram no Ultramar, com o «objetivo principal de honrar os militares vivos e falecidos, celebrando o dom da vida e da fé. Tem um caráter celebrativo e não associativo», refere o documento que fundamenta o motivo dos Encontros.

Quando nos reunimos, para além da oração, da homenagem nos cemitérios, ou de almoços convívios, quando foi e for possível, partilhamos experiências de guerra que, dado o tempo decorrido, até nos divertem.

É uma terapia, pela satisfação de estarmos juntos e a necessidade de juntos expurgarmos fantasmas que nos perseguem.

O que nos move não é procurar protagonismos, nem obter benefícios próprios, não é substituir ou questionar instituições «ligadas» ou tuteladas pelo Estado, com quem até foram tentadas aproximações, sendo certo, porém, que muitos Movimentos e Associações de Antigos Combatentes pelo País as contestam, eles lá sabem porquê.

O que nos move é a dignificação dos homens chamados a uma «guerra injusta, anacrónica, com centenas de milhares de vítimas, desde logo uma geração de antigos combatentes, enviados para uma guerra em que não acreditavam e alguns infelizmente não regressaram. Esses são todos heróis e todos vítimas» - disse o ministro da Defesa.

Não reclamamos heroicidade ou medalhas.

Reclamamos sim a dignificação do sacrifício que nos impuseram, rejeitando a voracidade dos extremismos da moda, que até nos apelidam agora de «traidores».

Que as vozes duma onda que tresanda a ignorância e insensatez se calem e nos respeitem.

Que o País, sem titubear, saiba honrar os Antigos Combatentes pela entrega dos anos de juventude a que foram forçados.

Os Encontros fazem-no, antes que seja uma classe extinta.

E pouco falta…

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