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Artigo de Opinião

Jornalista

2/09/2021 08:01

Acontece com tudo. Também com a gastronomia.

Os cheiros e os sabores vão se renovando, mas há uns que nos fazem regressar ao passado.

A comida da nossa infância jamais é esquecida.

A gastronomia está na moda. O que comemos e da forma como comemos passou a estar na ordem do dia.

Os chefs saíram das cozinhas e passaram a divulgar mais o que fazem e a valorizar o que se fazia noutros tempos.

A nova cozinha é um facto, mas o regresso à tradição, com o que se fazia noutros tempos, voltou a ganhar peso.

Pratos que antes eram quase que considerados "comida dos pobres", agora são iguarias muito requisitadas.

Aqui há uns anos era impensável ir a um restaurante comer um prato de milho com chicharros fritos. Hoje em dia os restaurantes servem-no como prato do dia e sempre com muito sucesso.

As sopas de trigo e outras, são outros dos exemplos.

A comida tradicional voltou a conquistar o seu espaço. Deixou as lareiras caseiras e saltou para as mesas dos restaurantes.

Já aqui falei do milho, mas há outras iguarias que recordo com alguma saudade. São cheiros e sabores da minha infância.

Um caldo de galinha caseira, feito pelas mãos da minha mãe era qualquer coisa de inigualável. Os produtos usados eram todos caseiros e biológicos. Aqui não entravam químicos.

A mesma galinha que dava um caldo, também dava um bom guisado. Só o cheiro quando estava a ser confecionado já fazia crescer muita água na boca.

Ainda da mesma galinha, o pescoço com sangue coagulado, as moelas e os fígados, também davam um belo arroz.

Das comidas do meu tempo, onde não entravam, pizas, risotos ou pastas, recordo-me por exemplo dos bolos levedos. Eram uns bolos feitos com farinha, batata e fermento. Amassados quase da mesma forma que se amassava o pão, só que depois do processo de levedura, eram fritos com banha de porco. Quem já provou sabe do que falo. Para não falar do pão caseiro, ou dos bolos de noiva ou de milho.

Mas há ainda outros sabores. A tradicional carne de vinho e alhos, as sopas, e aqui não posso deixar de referir a sopa de tripas, feita com as tripas do porco que se matava pela festa. Aqui confesso que o cheiro não é o melhor, mas o
sabor…

Ainda voltando ao milho, que para além de ser comido quente, depois de frio tinha muito aproveitamento. Fazíamos milho frito aos cubos, mas também mexido a que chamávamos "milho sapata" e que era acompanhado com um ovo frito.

Com o mesmo milho frio, fazia-se uma bela açorda com muito alho, segurelha e ovos cozidos lá dentro.

O milho mexido, ou frito aos cubos era acompanhado com um belo café de mistura. Um café que levava uma parte de cevada e outra a que chamávamos "do bom".

Com o pão caseiro, também se fazia açorda e "douradas" - pão embebido em ovos mexidos e depois frito.

Sobremesas nessa altura, para além da fruta da época, eram coisas raras.

Ainda assim lá de vez em quando surgia um pudim de ovos, um bolo preto, um bolo de bolacha, ou um bolo família.

Para refeições mais ligeiras não faltavam os bolos fritos, ou bolos da frigideira, quer eram feitos com farinha, água e ovos, tudo misturado e frito na hora. Havia ainda as papas de farinha de trigo que também desenrascavam uma refeição.

Quem não aprecia comida de conforto, preparada com amor. Feita pela avó, pela tia, pela mãe, pelo pai, pela vizinha. Pratos que ficam gravados na nossa memória para a vida, e tão fáceis de identificar no primeiro cheiro, garfada ou
colherada.

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