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Artigo de Opinião

Geógrafo / Colaborador Europe Direct Madeira

3/11/2025 03:30

É hoje unanimemente aceite que vivemos tempos incertos, onde se torna muito difícil prever o que quer que seja. Ainda assim, arriscaria dizer que o grande acontecimento para este mês de novembro será a Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas – COP30, no Brasil, já a partir do próximo dia 10, isto claro, se ignorarmos as eleições do Benfica, os cartazes de campanha presidencial ou o anúncio de mais uma amena “otimização de recursos”, pois esses são efetivamente, fenómenos líderes de audiências.

Assim sendo, no plano internacional e com particular enfoque naquilo que possa vir a ser o desempenho da União Europeia (UE), as expectativas em torno da COP30 são elevadas e perfeitamente legítimas. Contudo, sabemos bem que este tipo de evento internacional tem tido altos e baixos, nas edições passadas. No ano transato, a COP29, em Baku - Azerbaijão, foi um claro exemplo do contraste expectativa/realidade, ao melhor estilo Instagram, ao ponto de ficar conhecida como a COP do Financiamento (e pouco mais). Não porque o assunto não seja relevante, mas porque havia (e continua a haver) um conjunto de temas de enorme importância que pura e simplesmente ficaram anexados ao plano das intenções. E de boas intenções e de gente bem-intencionada, já diz o povo, “está o inferno cheio”.

A COP30 contará com a presença de chefes de Estado, ministros, diplomatas, representantes da ONU, cientistas, líderes empresariais, ONGs, ativistas e membros da sociedade civil de mais de 190 países. Contudo, sabemos bem o quão importante é a presença dos “pesos pesados”, aqueles que têm maiores responsabilidades na emissão de gases com efeito de estufa (GEE), mas também o poder económico e os meios tecnológicos para reverterem o panorama atual. Falo, por exemplo, dos EUA que, na atual liderança Trump, voltou a rasgar o Acordo de Paris, de 2015, tendo a Casa Branca já anunciado que não marcará presença no Brasil. Claro que não podemos esquecer que falamos de Trump, logo, o que hoje é uma certeza, amanhã pode pura e simplesmente deixar de o ser. Aliás, esse é o eterno drama da comunicação social que desespera em encontrar o painel perfeito para analisar as suas ações, mas dificilmente consegue ser bem-sucedida, pois no vasto leque de especialistas que reúne, desconsidera erradamente os psicólogos!

Seja como for, a ausência de “representantes de alto nível” na COP30 não é uma fatalidade, mas limita em parte, a discussão em torno da problemática do financiamento, segundo o princípio das responsabilidades comuns diferenciadas, ou seja, um financiamento que garanta que os países desenvolvidos assumam e liderem os esforços para reduzir as emissões de GEE, assegurando os recursos financeiros e tecnológicos necessários para capacitação dos países menos desenvolvidos, nas ações de mitigação e adaptação aos efeitos (crescentes) das alterações climáticas.

Este vazio pode e deve ser preenchido por outros atores internacionais, sendo que, em matéria de ambiente, a UE não pode ser modesta na legítima ambição em ser líder na ação climática. A Europa tem o perfil, o know-how e provas dadas na articulação entre economia e sustentabilidade, pese embora algum abrandamento estratégico na execução do Green Deal, com diversos Estados-membros a colocarem um travão nas ambições iniciais deste inovador plano para a transição energética e a valorização ambiental.

E embora nem sempre se faça a devida justiça à importância e ao peso da UE, a verdade é que o mundo conta com o nosso exemplo e com a nossa liderança. Quando, em 2019, a Comissão Europeia anunciou o compromisso da neutralidade climática até 2050, não fez apenas uma declaração vistosa (utópica para alguns!). A UE deu um claro sinal ao mundo do seu comprometimento para com a sustentabilidade de um planeta que carece urgentemente de respostas firmes e arrojadas, em defesa de um futuro mais verde, apesar de toda as condicionantes decorrentes do peso cada vez maior da geopolítica internacional.

Marco Teles escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas.

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