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Artigo de Opinião

Antropóloga / Investigadora

25/03/2024 08:00

Hoje resolvi iniciar este escrito com um pouco de cultura clássica. Dizia-se que Temis, deusa protetora de justiça, era filha de Urano – o céu – e de Gaia – a Terra. Mas isso era na mitologia grega. Atualmente, a deusa da justiça parece mais uma filha da.... Mãe, olhando à forma como tendo sido administrada em Portugal.

Todos os dias assisto a situações de injustiça... na rua, no supermercado, no trânsito, nos transportes públicos, no local de trabalho... Injustiça é a ausência de igualdade e da imparcialidade.

Para mim, a problemática que mais paralisa a vida dos portugueses e que está na origem de todos os outros problemas, é, sem dúvida, a injustiça ou, se quisermos, a incapacidade de termos uma justiça capaz de lutar contra uma corrupção.

Hoje tenho a noção clara de que vivemos num país corrupto. E quem é corrupto vive impune. Todos nós sabemos quem são corruptos e quem não são. Ora, um país em que sabem perfeitamente quem são corruptos, é, verdadeiramente, um país que está a caminhar para um abismo. E ao chegar a este abismo, é o fim da picada. Deixa de haver valores, deixa de haver princípios e questões de ética. É este o país que queremos?!

A injustiça não respeita direitos, liberdades e garantias essenciais a todos.

Que se veja a injustiça...

Nos locais de trabalho, os superiores hierárquicos assumem uma postura de arrogância e de hostilização com as reivindicações dos trabalhadores que trabalham horas e horas para ganhar o ordenado mínimo, sem possibilidade de receberem um aumento. Assistimos a injustiça nas avaliações de desempenho dos trabalhadores, que não reflete o mesmo, sendo que o valor máximo da avaliação é atribuído unicamente aos “tais” colaboradores, aos amigos. Ou ainda a injustiça na sobrecarga horária de trabalho que atinge o funcionário na sua vida pessoal. Ou aqueles que têm, por vezes, dois ou três trabalhos, sem qualidade de vida, de modo a possibilitarem uma vida melhor aos seus. A injustiça de querer uma habitação, um sítio nosso, um espaço acolhedor e confortável, e não o conseguir devido à inflação e ao mercado habitacional. A injustiça de necessitar de um médico e ter de esperar horas e horas para ser atendido no Centro de Saúde ou ter de aguardar meses – quiçá anos – pelo tratamento. Injustiça de alguém que sonha em estudar numa faculdade, tirar um curso superior, mas não ter essa possibilidade por não ter meios para pagar as propinas.

Tudo isto só significa uma coisa: o mundo é daqueles que têm o poder. Aquilo que é justo ou não ou quem dita as regras, é traçado pelos chamados “poderosos”, que acham que são mais que todo o resto do mundo só por terem, momentaneamente, poder. Sim, momentaneamente pois é apenas um tempo, um período, uma época... quando o reinado cai, o “poderoso” é esquecido. E não esquecemos: quando morremos, vamos todos para o mesmo sítio, sem distinção!

Mas a injustiça não apareceu do nada... Esteve também presente na vida dos nossos pais e avós, mas tal como nós, eles também lutaram para colocar um ponto final na história da injustiça e das desigualdades sociais, construindo o maior marco da nossa história: a Revolução de Abril. E se há algo na nossa vida que ainda nos leva a encontrar esperança e um caminho para o futuro é a Revolução de Abril, os seus valores e as suas conquistas.

Abril evidenciou que aqueles que apenas possuem as suas mãos para trabalhar também as podem usar para acabar com a injustiça. É lutar por algo melhor, varrendo o velho e construindo o novo. É lutar por um caminho fundado nos valores de Abril, que marcam o nosso país.

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