Foi apresentado na semana passada o Eurobarómetro de primavera do Parlamento Europeu, o último antes das Europeias, em Junho próximo. Os resultados são, aparentemente, animadores. Ainda que apenas 51 % dos portugueses digam estar interessados nestas eleições, a percentagem daqueles que “provavelmente” irão votar é agora de 57%. Ainda assim, bem abaixo da média europeia que é de uns, bem mais simpáticos, 71% (mais 10 pontos percentuais em comparação com período homólogo, em 2019).
Olhando para os resultados de cada um dos Estados-membros, parece haver um consenso generalizado que o atual contexto geopolítico internacional preocupa os europeus, de tal forma que a esmagadora maioria (81%) não têm qualquer dúvida que votar tornou-se agora ainda mais importante, face às ameaças externas emergentes. Talvez por isso, quando questionados sobre os valores que o Parlamento Europeu deve defender no futuro, a paz surge agora como primeira escolha com uma larga vantagem sobre, por exemplo, a proteção dos direitos humanos, a liberdade de expressão e pensamento, o Estado de Direito ou até mesmo a solidariedade entre Estados-membros e regiões da UE. É claramente o reflexo dos tempos difíceis que vivemos, com muitas incertezas à mistura. Aliás, a defesa e segurança é mesmo o domínio mais referido pelos inquiridos, associada ao reforço da posição da UE no mundo.
Mas embora a defesa e segurança seja por estes dias uma preocupação comum que deve ser encarada de forma séria por todos, esta não é a temática central para os europeus, quando se lhes questionam sobre os temas que gostariam de ver tratados na campanha eleitoral. Por ordem decrescente de importância, os europeus referem a “luta contra a pobreza e exclusão social”, a “saúde pública” e o “apoio à economia e criação de emprego”, sendo aliás, este último, o tema mais valorizado pelos portugueses. São dicas de grande relevância para os(as) candidatos(as) às Europeias que, não raras vezes, têm o dom de dissertar sobre o acessório, esquecendo (ou ignorando deliberadamente, porque não querem ou não sabem) aquilo que verdadeiramente interessa ao eleitorado que, no caso português, sofre de um “desgaste” acrescido, decorrente das legislativas do mês passado e pelo contexto sui generis que esteve na sua origem. Nesta linha de pensamento, o contexto regional é ainda mais sensível, sabendo-se que teremos umas Regionais promissoras em matéria de debate político (e não só!). Não arrisco prognósticos, mas creio que será particularmente difícil superar a taxa de participação registada em 2019, ainda para mais sabendo-se agora que, a nível regional, os candidatos dos principais partidos encontram-se lamentavelmente em lugares secundários de difícil eleição.
Seja como for, os dados estão lançados. E não tenhamos dúvidas acerca da importância destas eleições. Se há algo que aprendemos nestes últimos cinco anos é que a UE terá de se reposicionar perante a nova (des)ordem mundial. A vários níveis, esta união de estados tem demonstrado lentidão de pensamento e de concretização que em nada contribuem para a sua justa afirmação no mundo. Os desafios são mais que muitos e o relatório Letta, recentemente apresentado, poderá ter aqui um papel de destaque, não apenas porque identifica muitos dos entraves existentes, mas também porque refere caminhos alternativos para o futuro da Europa. Bem recebido por uns, olhado com desconfiança por outros, Von der Leyen classificou-o como uma possível fonte de “inspiração” para o próximo mandato, embora Enrico Letta alerte que “não há tempo a perder” se a UE quiser recuperar o atraso face aos concorrentes diretos.
Por outras palavras, estas (as Europeias) não são eleições de somenos importância. Pelo contrário! Aos eleitores caberá uma simples reflexão: quem realmente apresenta os(as) candidatos(as) mais competentes e empenhados com uma visão para a Europa à altura dos desafios complexos que enfrentamos?