É normal pensarmos que é saudável reclamar sobre uma tarefa de trabalho irritante ou sobre um comentário rude da chefia. Durante muito tempo, os próprios psicólogos acreditaram na teoria da catarse, em que é melhor libertar as emoções negativas do que ficar com elas. É ótimo ter alguém a validar a nossa perspetiva, especialmente quando concordam connosco. Falar sobre um sentimento negativo com o objetivo de compreender porque é que algo o incomoda e como reagir melhor no futuro pode ser benéfico. Quando alguém o prejudicou genuinamente ou quando se deparou com uma situação incomodativa que tem o poder de mudar, não faz mal em falar sobre o assunto.

Contudo, investigação recente contraria essa lógica. De acordo com o especialista Brad Bushman, da Universidade Estatal de Ohio, desabafar é a pior coisa que se pode fazer quando se está zangado, sendo o equivalente a pôr mais lenha na fogueira. Num estudo seu de 2002, demonstrou que quando as pessoas expressam a sua frustração só ficam mais irritadas e agressivas, afetando a sua saúde física e mental. Segundo Jesse Cougle, da Universidade Estatal da Flórida, dissecar uma conversa frustrante ou um problema pode levar à ruminação, que consiste na fixação em pensamentos e sentimentos negativos, levando a exagerar aborrecimentos menores.

O melhor caminho a seguir é agirmos como esperamos nos sentir, tentando ultrapassar a raiva em vez de ficarmos presos nela. A este propósito, um estudo publicado no International Journal of Social Psychiatry (2020) concluiu que desabafar estava associado a uma pior saúde mental, ao passo que tácitas como aceitar, brincar e reenquadrar positivamente a situação pareciam aumentar o bem-estar. Num outro estudo de Michael Anderson (2023), da Universidade de Cambridge, descobriu-se que suprimir os pensamentos negativos melhorava a saúde mental e que o mesmo princípio se aplica ao desabafo. Investigação recente de Bushman (2024) também sugere que as práticas calmantes como a meditação, o yoga e a respiração profunda são melhores para dissipar a raiva.

Para evitar cair nas armadilhas do desabafo em contexto laboral, a investigadora Erin Craw, numa publicação da Psychology Today (2023), recomenda a adoção das seguintes estratégias: 1) Reconheça a ruminação, procurando sinais que incluem conversas negativas recorrentes e fixação em problemas sem solução; 2) Dedique um tempo restrito para desabafar com os seus colegas e cumpra-o, estabelecendo um horário máximo de 5 a 10 minutos, especialmente quando consegue sentir alívio ao falar sobre o problema e ser validado por colegas que realmente o compreendem; 3) Concentre-se nas soluções, fazendo um brainstorming com os colegas; 4) Faça um acompanhamento dos problemas com os seus colegas depois discutir potenciais soluções e celebre as pequenas vitórias; 5) Normalize conversas positivas com os colegas antes da ocorrência de problemas, ajudando a tornar natural a mudança para uma discussão centrada na solução mais tarde. Mesmo em contexto remoto, arranje tempo para conversas com colegas próximos, evitando falar apelas quando tem problemas.

Em suma, pode ser irresistível desabafar com os seus colegas de trabalho sobre os aborrecimentos da vida, mas deve procurar alternativas mais saudáveis para lidar com a situação. Até porque um ouvido atento também pode ser uma boca aberta. Parafraseando a romancista de pseudónimo George Eliot: “É mais fácil reprimir as emoções do que incorrer nas consequências de as exprimir.”