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Artigo de Opinião

CULTURAS GLOBAIS E CRIATIVIDADE

24/04/2023 03:22

Por hoje, presto tributo a uma comunidade que admiro profundamente, faço uma curta e nunca suficiente vénia. Curvo-me em escritos a essa gente, enalteço o seu brio, bravura e garra. Em tempos que impera a polémica, o drama, o comentário fácil e barato, às vezes parece não restar tempo para se elogiar, valorizar quem merece. Falo da comunidade de caminheiros das Ilhas da Madeira.

Uns mais apressados, talvez tocados pelas tendências das competições e frenesins do correr bardeiras acima e abaixo. Outros mais relaxados, mas de olhar arqueólogo e arquivista na busca de reconhecer picos, vales e cristas que tão curiosos nomes deram os antepassados. Outros ainda, de foice de mato empenhada, na ventura de desbravar matos que quis o tempo tivessem abalroado trilhos de outrora. Há de tudo um pouco, desde rivalidades saudáveis a cooperações. Desde mais destemidos a mais amadornados. Desde quase caprinos a pezinhos de fada para não encardir a sapatilha da moda. É uma comunidade vasta e preponderante para a salvaguarda de um património ímpar do arquipélago.

Todo e qualquer escrito acerca dos mesmos será sempre curto e cheio de falhas. Ainda que assim, o sumo e alma destas linhas pretende apenas enaltecer esta comunidade que, de forma voluntária, redescobre, reaviva e dá continuidade a este lado das Ilhas da Madeira que vai desde o belo e acessível ao inóspito e agreste. Ao contrário de muitos projectos e iniciativas que têm por base a pedinchice, esta comunidade, na sua grande maioria, não espera que a Região faça algo por ela, ao invés, dá o exemplo que outros talvez pudessem seguir, faz algo pela Região com paixão, determinação e brio, sem esperar nada em troca, a não ser o encher da alma com a magia natural dos nossos cabeços.

Nesta comunidade, muitos se autointitulam de isto de aquilo, têm nomes, logotipos, até vestimentas e outros apetrechos. Encontram-se ao fim de semana para a seguinte missão ou num outro dia que dê jeito em que a vidinha cá de baixo, na civilização, permita. Pesquisam mapas antigos em buscas de trilhos e percursos que os mapas mais modernos excluíram. Por vezes buscam trilhos antigos que nunca existiram. Montam cordas, cabos, almejam tocar a recantos que muitos dificilmente visitarão. Muitos rivalizam entre si, "espiam-se" com as novas tecnologias, competem, mas uma competição que faz um bem maior sair a ganhar. Uns acham que a Serra é deles e querem guardá-la só para eles. Há de tudo um pouco e de forma saudável porque o Madeirense sabe ser.

O que interessa aqui relevar não são as individualidades, os grupos que existem, e sim o bem maior que esta comunidade significa. De forma quase sempre voluntária, pelo amor à montanha, sem grande reconhecimento público ou fachadas, galgam percursos e recantos que sem eles estariam comprometidos e talvez esquecidos. Hoje em dia fala-se muito da Inteligência Artificial e, a título de exemplo, do Chat GPT 4, mas esta comunidade sabe coisas que ainda não chegaram a estas novas realidades. Eu que o diga. Perguntei ao Chato Chat GPT 4 se me deitava a mão a reabrir a vereda da Porca Morta, se sabia a passagem antiga da Eira da Moura para a Crista do Galo, se sabia como limpar uma brenha de silvado e ele sabe é Mer... Desculpem a brincadeira.

Tentando fazer bom uso deste espaço, deixo este tributo nunca completo à comunidade de caminheiros desbravadores das Ilhas da Madeira. Sem eles a Madeira seria muito mais pequena e uma memória colectiva estaria, por ventura e sem aventura, erradicada.

Até…

João Paulo Freitas escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas

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