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Artigo de Opinião

Deputado

7/08/2021 05:00

Abusando de uma retórica gasta, aplaudida por muitos "fiéis", tenta desviar as atenções da sua clara impreparação governativa, sendo frequentes os discursos demagógicos e os ataques baixos para fugir aos temas e detalhes técnicos cujo conhecimento é, naturalmente, exigível a um chefe de governo.

Convivemos bem com a diferença de opiniões e até com o ataque pessoal e mesquinho e não condenamos ninguém por se ter afastado por completo da história do seu próprio partido e dos valores essenciais da social-democracia. Mas não podemos admitir que este discurso e impreparação extravase para áreas fulcrais da governação.

Isto a propósito das recentes declarações do presidente do Governo Regional, em plena Assembleia Regional, fazendo uma (sua) leitura ao setor da agricultura, referiu (e insistiu) que a agricultura biológica implica "um maior consumo de água", um maior "uso de solo", que é "mais poluente" classificando-a como uma "falácia" e um "erro ecológico grave que os países mais avançados já abandonaram"(!). Terminou com uma descarada provocação referindo que praticar agricultura biológica é voltar "aos estados da idade média", arrancando uns tímidos "Muito bem!" por parte de alguns (poucos, felizmente) apaixonados seguidores.

Basta uma visita ao site de organizações internacionais como as Nações Unidas, para desmontar as parvoíces vociferadas pelo presidente do executivo madeirense. De facto, a agricultura biológica está em franca expansão sendo atualmente praticada em 187 países, ocupando mais de 72,3 milhões de hectares de área. Com cerca de 3,1 milhões de agricultores reconhecidos, a agricultura biológica representou, em 2019, um mercado global de 106 biliões de euros (quando em 2000 representava apenas 15,1 biliões de euros), numa lista liderada pelos Estados Unidos com 44,7 biliões de euros, seguido pela Alemanha (12 biliões de euros) e a França (11,3 biliões de euros). Todos países de terceiro mundo, na ótica de Miguel Albuquerque!

Não deixa de ser irónico confrontar estas declarações com o Programa de Governo do próprio Miguel Albuquerque que defendia a necessidade de "estimular o crescimento da agricultura em Modo de Produção Biológico", onde o próprio Secretário da Agricultura defendia que "a visão com que encaramos o futuro e desenvolvimento do setor primário na Madeira materializa-se através de uma maior aposta e incentivo na agricultura em modo de produção biológica". Agora entendemos o porquê da falta de apoios e de investimentos para o modo biológico e o sucessivo abandono de terras com potencial agrícola.

Acima de tudo verificamos que apenas o presidente do Governo rema contra esta maré, estrategicamente apoiado no líder parlamentar do CDS que, poucos dias antes, afirmou publicamente que apostar na agricultura era "voltar ao passado" e "condenar os madeirenses à pobreza", o que não é (de todo) verdade.

É necessário, sim, que a aposta passe por uma nova visão e estratégia bem delineada que crie uma agricultura mais inovadora, diferenciada, eficiente, sustentável e rentável para as famílias.

Mas estas declarações públicas são particularmente ridículas vindo do líder parlamentar de um partido que há bem pouco tempo tinha como Presidente a antiga Ministra da Agricultura, Assunção Cristas. Mudam-se os tempos, mudam-se os interesses!

Acima de tudo entendo que tem de existir responsabilidade (e responsabilização) dos políticos que prestam declarações públicas, os quais têm de ter consciência do significado das suas declarações e do seu impacto.

Porque ao contrário do que dizem os partidos que constituem o nosso Governo, a agricultura é uma atividade que tem, e terá sempre, um enorme futuro, porque dela depende um dos nossos bens mais preciosos - a nossa comida. É necessária, contudo, uma nova visão e uma transformação. E existem todas as condições para fazer esta transformação. Basta que para isso exista vontade... e capacidade política!

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