MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

CULTURAS GLOBAIS E CRIATIVIDADE

20/06/2021 08:00

Quem não ouviu falar da Cascata dos Anjos na antiga estrada entre Ponta do Sol e Madalena do Mar? Aposto que a grande maioria de vós. É um fenómeno. Resmas de fotografias escorrem pelo globo. Dá para lavar o carro, há quem diga que parece um simulador de uma intempérie. Recentemente tem se tornado um fenómeno à escala mundial, onde se faz fila para tirar uma foto, onde se exibe os corpos trabalhados eximiamente no ginásio ou no sofá. É verdadeiramente um postal, um Marketing que se faz do destino Madeira e que resulta. No passado existiam outras cascatas deste género pela Ilha. Sucumbiram à evolução, desapareceram com o tempo e ventos. O carácter de raridade e o facto de ser única, faz desta cascata um ex-líbris do destino Madeira. É recanto onde é possível se refrescar em dias abonançados e quentes das Costas de Baixo da Ilha. É passar por lá para apreciar.

Acontece que nem tudo são rosas, nem tudo é deslumbre. Esta cascata fenomenal, ao estilo de atracções que existem por esse mundo fora, onde se faz fila para a fotografia da praxe, situa-se numa estrada normalmente fechada ou condicionada. A queda de pedras e a instabilidade da escarpa são algumas das razões. Acontece também que esta cascata, inclusive em páginas oficiais, já apareceu como bandeira e atração do destino, assim como muitos outros lugares. É aqui que entra a palavra bem conhecida dos Madeirenses: "Malandrice". O meu alerta vai para as autoridades locais e regionais. Será suficiente a Madeira viver da promoção destes recantos de natureza, misturados com acção humana, apenas com a fotografia? O incremento e mudança do paradigma em relação a quem nos visita não carecerá também de um aumento da responsabilidade? Não será necessário desenvolver estratégias práticas e no terreno para tornar estas atracções seguras? Por exemplo, cuidar das estradas secundárias como a referida?

Em debate amistoso com preocupados acerca do futuro da Ilha, alguém dizia que é fácil cair na malandrice em relação ao não cuidar da Ilha, do destino. Mesmo sendo "malandros" (no bom sentido), a Ilha é sempre bela, é especial, é um destino de referência, ainda mais pós pandemia em que os destinos em que se parece estar longe do mundo são mais atractivos. Pode-se não fazer nada que a Ilha é referência. A minha questão, em jeito de desafio positivo e estimulante é: Imagine-se que se fazia um pouco mais e que se deixasse a "malandrice"?

Talvez seja insistência minha ou sonho de anacrónico. Talvez também o facto de me preocupar muito com a minha Ilha e seu futuro leve a ter estas "alucinações". Não há dúvida que a Ilha da Madeira é uma referência e, pelo que tenho constatado, através dos alguns amigos e conhecidos que tenho por esse mundo além, a sua fama tem vindo a explodir, fazendo com que a diversidade e volume de quem nos visita também se preveja surgir em explosão. Temos estradas modernas, serviços variados e de excelência, um povo alegre e obstinado sem igual. Imaginemos que tínhamos esses recantos que por aí existem um pouco ao "desabandono" mais cuidados? Imaginemos que para além das vias modernas mantidas e seguras, tínhamos também as belas estradas secundárias que circundam vales de magia? Imaginemos que quem tem pressa pudesse usar as estradas modernas e quem não tem pudesse usar as agora "alternativas" estradas secundárias? Quem nos visita mete-se, vai à procura, muitas vezes expõe-se a eventuais perigos. O incremento da fama do destino Madeira significará um incremento da responsabilidade. A Madeira moderna está cuidada. A Madeira pitoresca, alternativa, antiga, histórica, nem sempre. Nada disto que escrevo é uma crítica destrutiva ou falar por falar, é um sentimento de estima pela minha terra que, quer se queira quer não, é procurada, não por modernidades apenas (que a maioria dos nossos visitantes tem melhor nos seus países de origem) mas sim, e também, pelas particularidades e conteúdo único que nos caracteriza. À cabeça, a Natureza, também a cascata dos Anjos.

Até…

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