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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

14/05/2023 08:30

A música é considerada a mais humana das artes e constitui o mais equilibrado e universal meio de expressão de que o homem dispõe. A ação litúrgica para ser verdadeira terá de pressupor a verdade do homem. É frequente dizer-se que "a música está para o homem como a água para o peixe."

Os sentimentos e emoções, como o louvor, a ação de graças, a alegria, a contemplação, a esperança, estão presentes em todas as celebrações litúrgicas, nos sacramentos e na piedade popular. Estes sentimentos e emoções ficariam atrofiados se não pudessem exprimir-se na música, sobretudo no canto.

Pode haver celebrações litúrgicas sem música, mas em concreto, não se pode conceber uma celebração sem música, porque a celebração supõe o homem todo, e a música exprime da melhor forma esta totalidade.

O canto em conjunto une as pessoas, a voz de cada um une-se e amplia-se nas vozes dos outros, formam um corpo, um povo, o canto em conjunto, faz de muitos um, na ação litúrgica, transforma-se numa afirmação e adesão aos mistérios celebrados.

No centro da ação está a Palavra de Deus, mas ela não está apenas na proclamação. É uma vibração do homem todo e para isso precisa da música. A totalidade da palavra só pode acontecer com o concurso da música. As celebrações são sempre "Opus Dei" Obra de Deus Pai, no Filho e no Espírito Santo.

As obras da música sacra do passado, podem ter lugar na liturgia atual, desde que sejam selecionadas e enquadradas com critério. Há obras primas em canto gregoriano do passado, que para ouvi-las ou participar nelas, é preciso ir a São Pedro do Vaticano, à catedral católica do Westminster em Londres, aos mosteiros de alguns religiosos espalhados em toda a Europa e, por vezes, também nalguns países da África negra.

O homem moderno sente as coisas à sua maneira. A ação litúrgica deve corresponder à sua envolvência cultural e musical, mas o canto tem uma perspetiva e dimensão escatológica da vida das pessoas crentes.

Dedicar umas jornadas do clero e também dos seminaristas à música não é um tema menor de pastoral. A oração na Igreja faz parte essencial da sua vida, e o cantar, segundo a expressão que remonta aos tempos do grande Santo Agostinho é "orar duas vezes".

O grande religioso e liturgista Próspero Guéranger escreveu: "O povo cristão é um povo que canta. A Igreja, Mãe e Mestra, sempre intuiu a riqueza escondida na linguagem musical e introduziu-a sempre na liturgia". O canto não é um elemento decorativo, não entra na nova liturgia, como obra de arte, embora o seja várias vezes, mas como ação significativa de uma assembleia que exprime com o cântico a própria fé e o louvor a Deus. É a melhor forma de celebrar o mistério pascal no dia do Senhor.

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