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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

17/01/2021 08:00

A grande exegeta Orígenes, um dos génios do cristianismo nascente no Egito, tornou célebre a frase: "A escritura interpreta-se com a Escritura", consagrando o método exegético apresentado na tradição hebraica e cristã; Santo Agostinho retomou a mesma inspiração nas suas pregações e escritos.

Orígenes, cuja principal preocupação foi levar os homens do seu tempo a compreender e aceitar a doutrina da Sagrada Escritura, tem uma produção literária e Bíblica assombrosa, quando a doutrina da Igreja estava em grande parte informe e indefinida, ele tentou construir uma síntese ideológica do cristianismo, utilizando todos os conhecimentos do pensamento da sua época para explicar e aprofundar o sentido da Bíblia que constituía a fonte definitiva e última de toda a sabedoria. Sem dúvida que ele é o mais profundo, original e audaz dos Padres da Igreja do século II.

Entre as exegetas do nosso tempo é muito conhecida, pregada e comentada a frase: "As sete Palavras de Jesus na cruz," alguns místicos sugerem fazer o mesmo com as palavras de Maria, aquela que deu a vida a Jesus, a escolhida pelo Altíssimo para gerar o divino.

Na Anunciação, revela-se a primeira palavra de Maria quando o Arcanjo Gabriel lhe desvenda "o mistério da história", Maria diz: "Como será isto? Eu não conheço homem". Maria quer conhecer o mistério de Deus, o arcanjo respondeu: "o Espírito Santo descerá sobre ti". Cada um de nós faz parte dum projeto de Deus e deve procurar saber aquilo que Deus quer que realizemos.

A segunda palavra é "Faça-se em mim segundo a Tua Palavra". Maria anuncia o momento em que a humanidade tem poder na história humana, porque está cheia do Espírito Santo e vive a misericórdia em ordem à construção do corpo de Cristo.

Na Visitação Isabel saúda Maria: "bem-aventurada aquela que acreditou" dando origem à alegria do Magnificat. Orígenes, Santo Ambrósio e São Leão Magno ensinam que a vocação cristã não se vive só na intimidade com Deus, mas também na relação com os irmãos na história da humanidade.

No encontro de Jesus no Templo entre os doutores, momento de angústia e dor, Maria pergunta a seu Filho: "Porque nos fizeste isto?" ( Lc.2,48). É a noite escura de Maria e de José. Deus não criou o mal nem a morte, mas entraram no mundo e o Senhor quer operar a Redenção. É o valor da Páscoa: "Não sabeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?" responde Jesus. Maria não compreende mas conserva as palavras no seu coração. Quantas vezes não compreendemos também os factos da história humana, como hoje o covid-19?

Nas núpcias de Caná da Galileia, Maria é a que intercede pelos jovens esposos. A vocação do crente é a de falar de Deus aos homens. "Não têm vinho" diz Maria a Seu Filho. Na Bíblia o vinho é o sinal do Espírito Santo, Maria cheia do Espírito de Deus é sensível à sua presença.

A última palavra de Maria é dirigida aos servos: "Fazei aquilo que Ele vos disser" (Jo.2,5). Esta palavra evoca a história de José no Egito (Gen. 41,55). "Ide com José," no tempo da grande fome, o trigo fora arrecadado e agora vendido pelo hebreu José que fora vendido pelos irmãos. José esquece a vingança, os irmãos não o reconhecem, mas são obrigados a trazer o pai ancião para o Egito que reconhecerá o seu filho, e reunirá a sua família.

Maria, com as suas palavras, obriga Jesus a manifestar-se através do sinal do milagre, "manifestou a Sua glória, e os Seus discípulos acreditaram n’Ele, depois disto desceu a Cafarnaum com Sua Mãe, Seus irmãos e Seus discípulos, reúne a primeira comunidade crente que se dirige para Cafarnaum (Jo- 2,5). Assim começa a grande Aventura da Páscoa.

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