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Artigo de Opinião

Jornalista

22/12/2022 08:00

Na minha terra era assim. E de certa forma ainda é.

A "missa do galo" era, por assim dizer o ponto alto da festa e logo depois as romagens.

Os participantes organizam-se se à porta da igreja e mal termina a missa é tempo de avançar.

Dois a dois em grupos com muitos participantes, lá vão eles igreja acima. Cantam ao menino Jesus e levam oferendas para a igreja e para o padre.

As oferendas são diversas. Há de tudo: dinheiro, pão, broas, bebidas, batatas, semelhas e em alguns casos até animais vivos, como galinhas ou até pequenos borregos. Tudo em nome da fé.

Tudo isto era preparado com muito cuidado. Em cada sítio os vizinhos organizavam-se. Preparavam as letras das músicas e depois com a ajuda dos tocadores lá acertavam o melhor ritmo para aquela letra. Os poemas eram de rimas simples e variavam em função da inspiração de quem as criava.

Depois da letra e da música prontas, havia que ensaiar. Para isso implicava reunir o grupo para afinar o coro. Esses momentos normalmente feitos na casa de um dia vizinhos já eram vividos com o espírito de Natal. Não faltavam as bebidas e os doces característicos da época. Havia acima de tudo que "aquecer a alma e garganta".

Depois de vários dias de ensaios, era tempo de recolher as oferendas. Alguém ficava encarregado de percorrer o sítio para recolher o que cada um entendia por bem oferecer para a igreja. Depois de tudo recolhido na noite de Natal procedia-se à sua organização para escolher a melhor forma de levar tudo até à igreja e depois até ao altar.

Preparavam-se cestos e outras formas de levar as ofertas.

Depois desta preparação prévia, o caminho era feito a pé em direção à igreja. Tudo preparado para mostrar os dotes musicais em plena igreja, perante uma plateia curiosa que não arredava pé. Havia que dar boa imagem, até porque existia uma certa competição entre os vários sítios para ver quem levava mais ofertas e quem apresentava a melhor música.

E tudo isto era guardado para a posteridade. Não havia tal como hoje os telemóveis para gravar e fotografar e as redes sociais para divulgar, mas já existam fotógrafos que faziam questão de reportar o que ia acontecendo.

Ao mesmo tempo, sobretudo os emigrantes carregavam grandes gravadores de cassetes-alguns colocados às costas -para apanhar a música toda. Ficava tudo registado para mais tarde recordar. Era vê-los amontoados à porta da igreja para depois acompanhar o trajeto das romagens até ao altar.

Faziam esse vai e vem o número de vezes que fosse em função do número de romagens que existisse. Era bonito de se ver.

É claro que os tempos mudaram. Ainda existem romagens e oferendas. Ainda existem emigrantes, mas a evolução de tudo alterou a forma de acompanhar tudo isto.

Deixo aqui alguns dos versos desta nossa cultura popular, transcritos da forma como foram distribuídos aos elementos de cada romaria:

Pedimos Jesus,
Pelos emigrantes,
Que lutam na vida,
Em terras distantes.

Aos governantes
Dá sabedoria,
Para governarem
Na paz e na harmonia.

Pastores cantemos,
A paz que encanta,
Cantemos louvores,
À Trindade Santa.

É noite de festa,
Noite de Natal,
Cantemos irmãos,
A Deus Imortal.

Dai ao senhor padre
E a todo este povo,
Um Santo Natal,
Próspero ano novo.

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