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Artigo de Opinião

Psicóloga Clínica

8/09/2022 06:00

Uma morte súbita, repentina, deixa os sobreviventes com a sensação de irrealidade acerca da perda. Muitas vezes, quando o telefone toca esperam que do outro lado da linha seja o seu familiar falecido. Esta sensação de irrealidade pode durar muito tempo e ter implicações graves no quotidiano dos sobreviventes.

Falar da morte é ainda tabu, no entanto é tão real como a própria vida. E, inerente à morte, temos de falar no processo de luto, que é transversal à humanidade, no entanto é individual, muito próprio e intransmissível.

Quando falamos de luto falamos de qualquer perda significativa que provoca alterações no nosso dia-a-dia e nos nossos sentimentos.

No seguimento do que comecei por escrever, irei abordar o luto pela morte de alguém emocionalmente significativo, alguém por quem nutrimos afeto e mesmo amor.

Quando estamos perante uma morte traumática, podem surgir reações que complicam ainda mais o processo de luto, tais como sentir-se oprimido, incapacidade de lidar com a perda ou mesmo incapacidade de tomar consciência da perda.

Apesar de ser um acontecimento expectável ao longo da vida, a morte de alguém próximo é um acontecimento que faz com que o nosso mundo desabe e que, dependendo da relação mais ou menos profunda, faz com que as perspetivas que tínhamos para o futuro desapareçam, muitos objetivos deixam de fazer sentido, pois a perda é irreversível e a separação inevitável.

O luto é um processo mais ou menos longo, dependendo das características da relação entre quem faleceu e a pessoa enlutada, da capacidade de gestão de emoções, do tipo de morte…mas que se espera que tenha um fim. Esse fim caracteriza-se pelo reajustamento a uma realidade onde a pessoa que morreu já não se encontra, é o reaprender a viver da pessoa enlutada, mas inevitavelmente fica a saudade, permanecem as memórias e boas recordações, que sempre nos acompanharão.

Ao percorrer o processo de luto, a pessoa enlutada passa por diversas fases, caraterizadas por sintomas como o choque, o choro, a revolta, o desespero, a angústia que são normais a determinadas alturas. Noutras começa a haver o retomar do dia-a-dia, acompanhado ainda de uma tristeza profunda, mas há o regresso às atividades normais. O tempo vai passando até que, em situações de luto normativo, a pessoa enlutada aceita a perda, sem nunca esquecer, mas recomeça a sorrir, a vida volta a fazer sentido.

Para a mesma pessoa, dois lutos nunca são iguais, e o que foi no passado pode não ser no presente.

Muitas vezes os enlutados não sabem se é normal o que estão a sentir, não sabem como continuar com a sua vida. As vozes do senso comum, de familiares e amigos usam expressões que não só não ajudam, como pioram o estado emocional do enlutado. Tal não acontece por maldade, mas sim por não saberem o que dizer…

Por estas e muitas mais razões existe a Intervenção Psicológica no Luto, que deve ser qualificada e levada a cabo por psicólogos clínicos experientes na área.

O psicólogo não vai elaborar o processo de luto pela pessoa que tem à sua frente, mas vai explicar o que é normal e o que não é, o que pode acontecer numa fase seguinte, vai amparar a caminhada do enlutado, dotando-o de estratégias que o ajudarão à adaptação a uma nova realidade, onde um dia o sofrimento se tornará suportável.

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