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Artigo de Opinião

Diretor

7/12/2024 08:00

As gerações mais experientes lembram-se certamente de um dito antigo que transporta ensinamentos para a vida.

Naquele tempo – no tempo em que as parábolas começavam sempre da mesma forma – naquele tempo, diziam amiúde os mais antigos: “Não brinques com coisas sérias!”

Isto era o aviso. Era servido num misto de advertência e recado feito de dedo no ar e olhar fixo.

Depois vinha o ralhete. Que não se devia brincar com temas importantes. Que tanto podiam ser assuntos da religião, como a vida alheia, a comida ou mesmo coisas da governação, que eram para “gente da alta”, preparada para tomar decisões que o povo cumpria com precisão.

Naquele tempo, era isto que se tinha numa espécie de manual dos bons costumes. Era tudo tão simples e, ao mesmo tempo, tão enviesado.

Naquele tempo, era tudo muito assim: ditado de cima para baixo, cumprido de baixo acima. Não havia cá crises, nem dúvidas sobre quem mandava e quem cumpria.

Democracia? Autonomia? Não se sabia o que era isso.

Era assim naquele tempo.

Hoje, passado meio século, esperava-se uma prática diferente. Mais democrática, naturalmente, mas também com mais participação popular e muito mais responsabilidade política.

A democracia implantou-se, com maior ou menor dificuldade, e é hoje uma instituição dada como adquirida – embora nunca o seja totalmente – e encarada como um pilar. Até pode tremer, mas não pode cair.

A participação popular tem dias. Numa sociedade moderna, mais informada, mais bem formada, seria de esperar uma maior presença no debate público. Mas o que temos não é bem isso. Não é de todo. O que temos é uma sociedade alheada, desinteressada, conformada. Que se indigna com a derrota do Marítimo, mas que olha para a política de lado e conclui que “isso é lá com eles”.

A responsabilidade política traz-nos à narrativa da instabilidade que nos acompanha há demasiado tempo e que arrisca por aqui ficar mais uns longos meses.

Vale a pena lembrar que a estabilidade política, sendo muito importante, não tem de ser mantida a todo o custo. Por isso é que os partidos têm ferramentas para baralhar as cartas e deitar o jogo abaixo quando têm a certeza absoluta de que não há mais caminho e que é preciso devolver a palavra ao povo.

Mas o que se tem visto na Madeira, nos últimos meses, é bem menos do que isso. É um somatório de birras emaranhadas numa grande e grave incoerência. De vários lados.

Não é humanamente compreensível que o Chega elogie o Orçamento a uma segunda-feira e apresente a moção de censura à quarta-feira seguinte. Isso é coisa de assembleia geral de clube duvidoso.

Não é concebível que o JPP se deixe levar pelo entusiasmo a ponto de ouvir apenas os que dizem que sim à liderança, descurando os que construíram o movimento que se fez partido. Isso é memória curta.

Não é entendível que o PS vote o adiamento da moção de censura para depois do Orçamento e prometa fazer cair o Governo logo a seguir. Isso é atitude de partido de protesto, sem estratégia nem rumo, não de um partido responsável que se anuncia alternância.

Não é aceitável que o PSD – e meio governo – se entretenham com esta novela em que muitos dos principais atores procuram colocar os seus interesses acima dos interesses da Madeira. Isso é coisa de quem se quer governar e não de quem devia governar.

Em momentos como este, que prometem ficar para a história contemporânea da Madeira, é que se vê, ou não, o sentido de responsabilidade e de Estado de quem se fez político com a nobre missão de defender a causa pública, de lutar pelos cidadãos, de zelar pelo bem comum. Mas o que temos é uma agenda política em que a Região está refém dos diretórios dos principais partidos.

Tudo isto tem custos demasiado elevados que deviam fazer pensar quem tem poder para agir e mudar as coisas já na próxima semana em vez de se deixar levar pelo entusiasmo de ir outra vez para eleições sem perceber que pode ficar em posição mais frágil do que está. Ainda se esse caminho fosse sujeito a uma estratégia, a um plano sólido capaz de mudar alguma coisa... mas não! A perspetiva é mudar tudo para ficar tudo na mesma. Ou pior.

Andam a brincar com coisas sérias.

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