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Artigo de Opinião

Já não há noites eleitorais como antigamente. A contagem dos votos que foi pela madrugada dentro confirma o elevado grau de imprevisibilidade da política. Não há vitórias certas, nem derrotas anunciadas. Há tendências.

E há sondagens, de que falaremos no fim.

A tendência era quase percetível no início do processo eleitoral. Ao contrário do que vem nos velhos e atrasados manuais de política, um partido no governo com maioria absoluta pode passar para a oposição em pouco tempo.

Foi o que sentiu e confirmou António Costa. Foi o que sentiram os socialistas portugueses que passam para a oposição, a menos que a instabilidade governativa os ajude a pensar no regresso ao poder.

Dirão os eleitores madeirenses que isso é coisa que não se vê por aqui. Que aqui, aconteça o que acontecer, quem está no poder, mantém o poder. E é verdade. A Madeira apenas conhece duas soluções governativas: uma do PSD em maioria, outra do PSD em maioria com o CDS e depois com a ajuda do PAN.

Ora, justamente a Madeira que tem estado nas bocas do mundo devido à crise política regional, pronunciou-se ontem de forma clara: os eleitores madeirenses foram às urnas dizer que continuam a votar no PSD. Isso ficou definido com a coligação PSD/CDS, que tem divórcio marcado, a conseguir manter os três deputados do PSD em São Bento.

Mas os eleitores madeirenses disseram mais do que isso. Disseram que estão ao lado de Miguel Albuquerque, o presidente do governo demissionário que já anunciou que quer voltar e líder do partido que disputa a sua própria sucessão. É claro que são eleições distintas, mas a tendência está marcada.

A vitória do PSD tem, assim, outra leitura, que é para consumo interno e que vai certamente dominar as atenções dos militantes social-democratas.

E a reação aos resultados mostra que Miguel Albuquerque continua na sua própria agenda. Embora sem chamar a si, diretamente, a vitória, Albuquerque fez os agradecimentos habituais e voltou a chamar o CDS para o palco. E o CDS enalteceu o trabalho de uma coligação saudável... que está prestes a acabar.

Na oposição também ficaram mensagens fortes. Ficou evidente o falhanço da estratégia do PS-M. A ideia de fazer regressar Paulo Cafôfo para uma dupla condição de candidato a Lisboa e à Madeira não foi aceite pelos eleitores. Antes pelo contrário, foi mesmo castigada. É certo que Cafôfo não contava com tamanha oferta da crise política regional, mas não ficou bem quando foi visto a correr para dois lugares ao mesmo tempo e com igual convicção.

Mesmo assim, o PS que perdeu ontem cerca de 10 mil votos é o mesmo que se anunciou ontem pronto para disputar a próxima eleição para a Assembleia regional, o que se revela outra vez estranho. Apesar de toda a legitimidade política interna, esse caminho é demasiado estreito para os socialistas madeirenses. E, mais importante do que um partido, esse caminho é demasiado incerto para os madeirenses.

Entre vencedores e derrotados, merce natural destaque a subida imparável do Chega. O partido de André Ventura conseguiu levar a onda a todo o País e a Madeira não foi exceção. O Chega sobe exponencialmente, elege um deputado da Madeira em São Bento e abre caminho para ser decisivo num eventual Governo Regional de maioria de direita.

De resto, mais do mesmo: os pequenos partidos são cada vez mais pequenos partidos. Tanto na Região como no espaço nacional.

Mesmo assim, esta campanha eleitoral demonstrou, mais uma vez, que há diferenças entre os partidos de menor expressão. Há os que trabalham sempre e têm ideias para a sociedade. E os que aparecem um mês antes das eleições sem a mais pálida ideia do que aqui fazem.

Os eleitores percebem ao que vão uns e outros. E votam de acordo com esse julgamento pessoal. É a democracia a funcionar.

Uma nota final para falar de sondagens. Como dizem os políticos encartados, as sondagens valem o que valem”. Mas valem muito mais do que parecem. São indicadores preciosos. São instrumentos de trabalho que devem ser lidos e interpretados com rigor, mesmo quando desagradam. Sobretudo quando desagradam.

Mais uma vez, o JM publicou uma sondagem – feita pela Intercampus – que teve coincidência total na distribuição de mandatos. A capa do JM quarta-feira dizia em manchete:

“PSD mantém 3

PS reduzido a 2

Chega elege 1”

A capa do JM de quarta-feira podia muito bem ser a capa do JM desta segunda-feira.

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