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Artigo de Opinião

Psiquiatra

2/04/2024 08:00

A Páscoa no mundo judaico-cristão é uma época cheia de emoções e pensamentos profundos. Apesar de em todo o mundo, as diferentes tradições religiosas / espirituais terem festividades relacionadas com o equinócio da primavera e com períodos de jejum, no nosso país a tradição da Páscoa é a mais conhecida e a mais profunda das festividades religiosas. O seu encanto desaparece entre a abundância do Natal, do Dia dos Namorados, do Carnaval, do Dia do Pai, das festas dos Santos populares e as férias do verão, porque a Páscoa é difícil de comercializar-se. Afinal, como é que se vende a morte e a ressurreição? Com ovos e coelhos da Páscoa.... É curioso como o movimento anti-religião lutando contra ela não é tão eficaz como o consumismo em esvaziar o reconhecimento e a intenção dos rituais.

A superficialidade da sociedade já existe evidentemente há milénios, na atualidade agrava-se pela facilidade do consumismo, quer material, quer digital. A busca constante de prazer é algo programado biologicamente no nosso cérebro. É a forma biológica de, como animais, sobrevivermos na selva. Mas num mundo em que não somos ameaçados pela falta de recursos, mas pelo seu excesso, o prazer torna-se a nossa perdição. Enquanto tivermos o prazer e a posse na nossa mente, afastamo-nos das características humanas e ficamos reféns dos instintos.

Ser-se humano é algo entre a capacidade autorreflexiva de analisar o pensamento e a capacidade reflexiva de analisar a existência. O que é que temos substancialmente diferente dos outros animais? O tamanho do córtex pré-frontal. E quais são as suas funções? A inibição dos impulsos, gestão das emoções e das respostas automáticas (inteligência emocional); a capacidade de refletir sobre e gerir os nossos atos (inteligência social), gerir os pensamentos (inteligência abstrata – matemática, ciência, linguagem) e refletir sobre a existência (inteligência metafísica / espiritual).

Naturalmente se o que nos torna diferentes e humanos é algo tão complexo, também as suas potencialidades o são. Daí nascem todas as variedades de atividades humanas ao longo da História. É nas atividades de união, de grupo e de transcendência que ultrapassamos os limites da biologia pré-humana (igual aos répteis, aves e mamíferos e outros grupos). É por isso que a bondade, compaixão e o amor universal são tão importantes na espiritualidade. O seu objetivo primordial é a sublimação do ser humano, apesar de muitas implementações das religiões e grupos as tornarem demasiado longe dos seus ideais.

A importância do reconhecimento da nossa natureza pré-humana é fundamental para conseguirmos assimilar a sua existência dentro de nós e deixar a natureza humana desenvolver-se. Se buscarmos o prazer e a felicidade, o resultado é acabarmos como um ratinho imparável numa roda a rodar, porque os momentos acabam depressa e assim, os momentos de prazer e felicidade também. Se procurarmos acumular bens, acabamos sozinhos na desconfiança que alguém roube os nossos bens. A única solução para a felicidade duradoura é não a procurar e conduzir a nossa vida com base nos melhores princípios morais que tenhamos dentro de nós, aproveitando a vida em cada momento. Ao praticarmos o “bem da nossa moral”, dormimos bem e sentimos a satisfação do “dever cumprido”. Desta forma estamos disponíveis a aumentar o reservatório da satisfação com a nossa vida e assim, o bem-estar duradouro. É também neste espírito que podemos contactar com o amor livre de ciúmes e apegos.

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