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Artigo de Opinião

Diretor

2/03/2024 08:05

Era simples, divertido e com poucas regras:

1 - Afastar duas ou três mesas e criar um espaço com cadeiras, em círculo, a meio da sala.

2 - Ligar a música e toda a gente dançava à volta com menos uma cadeira do que jogadores.

3 - Parar a música de repente e toda a gente tinha de se sentar.

4 - Quem não conseguia lugar saía do jogo e era retirada uma cadeira.

É isto o essencial da laracha que alimentou gerações em salas de aulas de professores mais benevolentes.

Era simples, divertido e com poucas regras.

Mas o jogo continua. As cadeiras de agora são mais confortáveis e leves, a música é mais do nosso tempo, o gravador deu lugar ao telemóvel. Mas o resto é igual.

É afastar mesas, juntar cadeiras e toca a jogar.

Ao contrário da PlayStation ou de qualquer outra distração que carece de atualização frequente, a dança das cadeiras só precisa de música, gente e cadeiras.

Temos tudo isso em abundância. Tudo mesmo. E então se juntarmos o jogo aos políticos, temos campeonato renhido.

Desde o início do ano, o que não faltam são cadeiras, cantigas e pessoas a fazer a diligência para se sentar a tempo.

Mas, como ditam as regras, faltam cadeiras para tanta gente disposta a dançar à volta.

A vida política em Portugal tornou-se numa grande dança das cadeiras e ameaça assim continuar por mais uns bons meses. Talvez mesmo anos.

Não é um exclusivo lusitano, mas num País como o nosso – e numa terra conformada como a nossa – toda esta correria à espera de um lugar traz pasmados milhares de cidadãos, sobretudo aqueles que andam à roda, à roda, à roda, mas nunca conseguem lugar sentado.

Na Madeira, ao fim de 50 anos, ainda há gente que falha o assento. Ou o banco está ocupado por quem chegou primeiro, ou ficam no colo de outro ou ficam esparramados no chão. E volta tudo ao princípio, uma e outra vez.

Esta é, assumidamente, uma comparação ligeira com o jogo democrático em tempo eleitoral. Mas talvez sirva para se perceber melhor o que vivemos. Na verdade, andam os políticos e os partidos todos com a cabeça em eleições. E este ano são garantidamente duas, mas pensam todos em três. Todos, todos, todos.

E o resultado é o que estamos a ver: faz-se campanha para a Assembleia da República a pensar na campanha para a Assembleia regional. E são poucos os que se lembram da campanha para o Parlamento Europeu.

Quando questionados pelas relações com o Estado e sobre o que deve mudar a partir de Lisboa, vários candidatos esquivam-se nos problemas dos jovens, nas reformas dos idosos, na violência doméstica e no malfadado ferry.

Mas atenção que este mal não ataca apenas os partidos mais pequenos, menos estruturados e totalmente sem meios. Desta doença padecem também os partidos grandes e os médios e os assim-assim. Andam todos focados numas eleições regionais que são mais do que prováveis, mas que só serão confirmadas daqui por umas três semanas.

Enquanto andamos entretidos com eleições e congressos e disputas internas, a Madeira vive um tempo de intervalo. São meses em que alguns governantes estão em gestão, outros em reflexão e os cidadãos e as empresas a dar sinais de exaustão.

E isto pega-se!

Este modelo ‘parado, paradinho’ não se fica pelos governantes. Vem por aí abaixo e contamina tudo o que mexe. Trava diretores, para institutos, emperra Câmaras e Juntas.

Em caso de dúvida, nada se faz. Pouco se decide e muito se atira para a frente. Quem vier a seguir que resolva.

É neste momento que merece ser lembrada a preocupação do representante da República quando alertou, no início da crise, para a importância de aprovar o orçamento. Com um orçamento aprovado, fosse ele bom, mau ou assim-assim, não havia esta estagnação. Ou pelo menos não haveria desculpa para esta fase de ‘greve geral’ dos poderes.

A dança das cadeiras era um jogo simples e divertido. O que vivemos é um tempo complexo e subvertido em que uns poucos fazem muito e muitos fazem pouco de muitos de nós.

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