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Artigo de Opinião

Gestor do Europe Direct Madeira

1/02/2024 08:00

Se dúvidas ainda houvesse, creio que este mês de janeiro tornou bem claro que 2024 será, sem sombra de dúvida, um ano promissor em matéria de comunicação/informação. Desde logo, pelos dois lastimáveis (e dispensáveis) conflitos mundiais - Ucrânia e Faixa de Gaza, mas também pela ocorrência de um conjunto de atos eleitorais que envolvem países com enorme peso no palco global, como os Estados Unidos, por exemplo, onde um revigorado Trump, inconformado com a derrota de 2020, parece ganhar terreno sobre os seus adversários que, sem glória, vão tombando e se resignando com a incapacidade de contrariar o populismo de quem se afigura como o recordista de processos e acusações na vida privada, política e empresarial. Enfim, uma figura atípica que faz as delícias dos eleitores republicanos que o carregam em ombros contra um Biden politicamente forte, mas incontornavelmente debilitado pela sua condição de octogenário face às exigências de um cargo de enormes responsabilidades.

Mas, procurando “ignorar” o que vai do outro lado do Atlântico (pese embora todos saibamos que o resultado dessas eleições tem implicações planetárias – basta relembrar o que pensa Trump sobre as alterações climáticas!), não podemos esquecer que este é ano de Europeias. Não é um exercício fácil quando, a nível nacional, todas as atenções se centram na campanha para as legislativas e na cruzada da justiça. O cenário está montado: por um lado, o desespero dos partidos políticos preocupados com o aparente crescimento daquele-cujo-nome-não-deve-ser-pronunciado, e por outro, o mediatismo da ação judicial, despoletando uma situação delicada, sem dúvida, mas que ganha protagonismo exacerbado com a comunicação social a explorar detalhes que animam a imaginação fértil de um povo que não tem qualquer problema em expressar veredictos e fazer julgamentos na praça pública, independentemente do conhecimento que (não) têm sobre os visados e sobre o processo.

Este é também o preço a pagar pelo admirável mundo novo das Tecnologias, em que todos têm ao seu alcance ferramentas digitais a custo quase zero (nunca houve almoços grátis e não é agora que os vai haver...), onde podem disparar em todas as direções numa competição feroz e quase sem regras para acumular gostos, corações e outras virtuosidades digitais que, em termos práticos, pouco ou nada valem, à exceção de quem faz disto a sua vida “profissional”, promovendo mundos fantásticos em tons de rosa, onde a realidade e a ficção andam de mãos dadas.

Aliás, há precisamente duas semanas, tivemos um caso flagrante de desinformação pura e dura, com o anúncio em larga escala de que a UE se preparava para proibir as reparações de veículos com mais de 15 anos! Totalmente falso. Independentemente da idade, qualquer veículo poderá circular na via pública desde que cumpra as regras em vigor. Contudo, é necessário limitar a comercialização de “sucata” (que já não é sequer um automóvel, mas apenas e só um produto em fim de vida útil), de acordo com critérios transparentes e objetivos. Mas o que torna este caso verdadeiramente preocupante, é a ligeireza com que se partilham este tipo de notícias e a forma enraivecida como se comentam estas publicações falsas. Chega a ser deprimente! É sinal que pouco aprendemos com o passado, onde tivemos picos de desinformação verdadeiramente preocupantes. E mais triste ainda, é constatar que a comunicação social continua pouco resiliente a estes fenómenos, pois também ela facilmente embarca nestas aventuras da desinformação. Gravíssimo!

Mas há novas ameaças bem mais complexas à espreita, com conteúdos criados e manipulados por inteligência artificial. Das imagens impróprias de Taylor Swift, passando pelas denúncias de violações virtuais no metaverso, a IA encerra um potencial explosivo que não deverá ser ignorado nos grandes desafios eleitorais deste ano. E mesmo sendo pioneira na tentativa de regulamentação desta tecnologia, os riscos para a democracia da UE e dos seus Estados-membros não são, de todo, negligenciáveis.

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