Os incêndios florestais que assolam o país voltam a justificar a convocação de um protesto em setembro, de dimensão ibérica, organizado por uma rede cidadã que protesta contra a ação das celuloses e da indústria fóssil.
Em comunicado hoje divulgado, um dos organizadores do protesto, o investigador em alterações climáticas João Camargo, justificou a repetição do evento pela Floresta do Futuro com o que já é “mais um ano de devastadores incêndios florestais” e anunciou um processo de mobilização que envolve organizações nacionais e na Galiza, em Espanha, onde a portuguesa Altri “quer impor a construção de uma nova fábrica de celulose na Galiza, contra a vontade das populações locais”.
“Para lutar pela vida das pessoas que vivem nas áreas rurais, mas não só, é necessário uma crescente mobilização popular que trave os planos catastróficos que resultam da combinação dos interesses da indústria dos fósseis e das celuloses, apoiados pelos governos ibéricos durante as últimas décadas”, defende-se no comunicado.
Elencando as altas temperaturas, a seca e a monocultura de eucalipto como fatores que transformam o interior do país “numa caixa de fósforos”, o comunicado aponta o dedo à nova ministra da Administração Interna, Maria Lúcia Amaral, e às recentes declarações sobre os fogos da última semana, nas quais afirmou ser necessário compreender a sua raiz.
“As afirmações da ministra são na melhor das hipóteses ingénuas e na pior, e mais provável, dissimulação e encobrimento de quem cria as condições para os incêndios atingirem as dimensões catastróficas das últimas duas décadas. Os incendiários das celuloses e petrolíferas continuam a criar as condições para o mundo rural se tornar um deserto abandonado e letal”, afirma-se no comunicado.
“Os fogos são resultado da entrega do mundo rural português à indústria da celulose, que transformou um milhão de hectares em eucaliptais, uma grande parte dos quais em monocultura, tornando Portugal o país com a maior área de eucalipto do mundo. Não é inação do Estado, mas um projeto transversal à política governativa, tantas vezes recompensada com portas-giratórias para cargos executivos na indústria”, acusam.
Em Portugal, os ambientalistas criticam a atividade de empresas como a Galp e a EDP, que contribuem para o aquecimento global, que torna as ondas de calor mais frequentes e letais, recordando as centenas de mortes em excesso na última semana no país, mas sobretudo da Altri e da Navigator, celuloses “que se encontram no top das empresas mais poluentes do país” e responsáveis por vastas extensões de eucaliptal no território.
“Apesar da exausta promessa de que gerem bem as áreas de que recebem a madeira, nos últimos dias foram muitas as plantações destas celuloses em Aveiro, em Arouca e em Santarém, que arderam”, lê-se no comunicado.
A organização recorda que em 2024 o protesto reuniu centenas de pessoas em dezenas de aldeias e cidades do país.