Três navios de organizações não-governamentais (ONG) que fazem resgates humanitários no Mediterrâneo estão atualmente bloqueados e impedidos de operar pelas autoridades italianas, por desrespeito das novas normas instituídas pelo Governo de Giorgia Meloni.
O navio da ONG espanhola Open Arms está bloqueado, por 20 dias, desde segunda-feira, no porto de Marina de Carrara (noroeste), por ter procedido a mais de uma operação de salvamento na mesma saída para o mar, a mesma razão pela qual a embarcação alemã "Sea-Eye 4" está retida, desde terça-feira à noite, no porto de Salerno (sul).
Já o navio "Aurora", da ONG alemã Sea Watch, foi bloqueado por ter desembarcado, na segunda-feira, 72 migrantes no porto da ilha siciliana de Lampedusa, e não no porto que as autoridades italianas designaram, no caso Trapani, também na Sicília.
O Governo de Meloni, uma coligação de direita e extrema-direita que está em funções desde outubro do ano passado, concretizou as promessas feitas na campanha eleitoral relativamente a uma gestão mais estrita das migrações, tendo decretado em maio passado o "estado de emergência migratória" e adotado medidas de regulação das atividades dos navios de busca e salvamento das ONG.
Entre as medidas instituídas está a obrigatoriedade destes navios desembarcarem os migrantes nos portos determinados pelas autoridades e a impossibilidade de procederem a mais de uma operação de salvamento.
As ONG têm denunciado o que classificam como "uma política de guerra" que lhes é dirigida pelo executivo italiano, que acusam de restringir o acesso humanitário no Mediterrâneo Central, considerada atualmente a rota migratória mais perigosa do mundo.
Em comunicado, a Sea Watch explicou que "desembarcar em Lampedusa era a única opção possível para o ‘Aurora’, dados os recursos limitados de combustível, alimentos e água potável de que o navio dispunha para chegar ao porto de Trapani".
A organização alemã também considerou que a decisão das autoridades em bloquear o seu navio tem "uma motivação simplesmente absurda", que ilustra "a política de guerra às ONG que o Governo está a travar", à custa da vida de migrantes.
"Por vezes pedem-nos que substituamos a guarda costeira, permitindo sete salvamentos num único dia, mas noutras vezes somos impedidos e sancionados", deplorou, por seu turno, a Open Arms nas redes sociais, reiterando que "salvar vidas é um dever moral e legal, parar navios que podem ajudar numa emergência humanitária é perigoso e inconstitucional".
Segundo os dados oficiais mais recentes, mais de 105 mil migrantes chegaram a Itália desde o início do ano, sobretudo desde a Tunísia e Líbia, um aumento de mais de 115% em relação ao mesmo período de 2022, estimando-se que já tenham morrido este ano nas águas do Mediterrâneo mais de 2 mil pessoas.
LUSA