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Candidatura de Trump só o beneficia a ele

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Data de publicação
17 Novembro 2022
12:29

A cientista política luso-americana Daniela Melo considera que a candidatura de Donald Trump às eleições presidenciais norte-americanas de 2024 "ajuda apenas Trump e talvez ajude os democratas", sublinhando o efeito polarizador do ex-presidente.

"A candidatura de Trump ajuda apenas o Trump e talvez ajude os democratas nas próximas eleições", analisou, , considerando que o partido republicano ainda não decidiu o que irá fazer no seguimento do anúncio, que aconteceu esta semana.

Há um "coro de vozes" no partido contra o regresso de Trump, depois de muitos dos candidatos apoiados pelo ex-presidente nas intercalares terem perdido e "é muito difícil descolar a presença e o apoio de Trump da perda do Senado", frisou Daniela Melo.

"É uma situação difícil para o Partido Republicano porque tem de decidir, já não pode adiar, se quer ser um partido que abraça completamente o 'Trumpismo' ou se entra num período de rejeição total para tentar recalibrar".

A professora da Universidade de Boston destacou que quem vota nas primárias republicanas é o seu eleitorado de base, "que vê em Trump um forte líder", e isso pode facilitar a sua nomeação, mesmo que haja outros candidatos a desafiá-lo.

"Mas o partido entende que não consegue ganhar eleições presidenciais e tão pouco intercalares só com essa base", sublinhou. "Precisa do eleitor independente conservador, que não gosta de Trump. Já tivemos vários ciclos eleitorais para perceber que Trump só tem um peso muito forte com os eleitores de base do partido".

No rescaldo das eleições intercalares de 08 de novembro, em que os democratas mantiveram o controlo do Senado e os republicanos reconquistaram a Câmara dos Representantes por uma maioria bastante mais curta que o esperado, o governador reeleito da Florida, Ron DeSantis, emergiu como potencial alternativa a Trump.

"DeSantis sai disto muito bem", disse à Lusa o cientista político Thomas Holyoke, que leciona na Universidade estadual da Califórnia em Fresno, referindo-se à vitória esmagadora do republicano contra o oponente democrata Charlie Crist por quase vinte pontos percentuais (59,4% vs. 40%).

"As pessoas vão deixar de falar da Florida como um estado ‘púrpura’ ou ‘battleground’, é agora vermelho republicano, e isso deve-se mais a Ron DeSantis que a qualquer outra pessoa", indicou o especialista.

O contraste entre os resultados na Florida e o restante país, onde os republicanos não conseguiram materializar a esperada "onda vermelha", melhorou a posição de Ron DeSantis como possível candidato à nomeação.

Uma sondagem conduzida pela WPAi Intelligence para o grupo conservador Club for Growth mostrou, a 14 de novembro, que Ron DeSantis ultrapassou Donald Trump nas preferências dos eleitores republicanos no Iowa, New Hampshire, Florida e Geórgia, quatro estados muito importantes nas primárias.

"DeSantis está a ponderar tudo muito cuidadosamente. Suponho que ainda não tomou uma decisão", referiu Thomas Holyoke.

Esse é um cálculo que, considera Daniela Melo, se torna difícil de fazer neste momento porque o contexto sai fora dos padrões e não há indicadores suficientes sobre como DeSantis seria recebido.

"Ainda não temos indícios suficientes para perceber se o eleitorado pró-Trump, tendo de escolher entre Trump e Ron DeSantis, cairia por Trump. Não temos certezas sobre isso porque DeSantis continua muito popular", explicou a especialista.

"Embora tenha adotado muitos dos temas que são populares com Trump e se tenha alinhado sempre com o ex-presidente, ele é um político", frisou Daniela Melo. "Um político conservador que se encaixa mais nas matrizes de um candidato tradicional", acrescentou.

A professora notou que, no seu discurso de anúncio da candidatura, Donald Trump evitou falar de Ron DeSantis ou do seu ex-vice presidente Mike Pence.

Trump tornou-se oficialmente candidato numa altura em que continuam os rumores de que poderá ser acusado pelo Departamento de Justiça pela retenção e utilização indevida de documentos classificados.

"Nenhuma lei impede indiciar um candidato, mas do ponto de vista da óptica é terrível para o Departamento de Justiça", frisou a analista. Trump pode usar essa narrativa para se escudar, alegando que é vítima de perseguição política. Por outro lado, "tem saudades de ser presidente e estar no poder".

O avanço de Trump e o potencial de Ron DeSantis também estarão a ser ponderados do lado dos democratas e do presidente Biden, que continua com taxas de aprovação baixas (40-42%) e em 2024 terá 81 anos.

"A minha leitura é que Biden preferiria não ser o candidato, mas com o anúncio de Trump torna-se mais provável que ele seja o candidato mais uma vez", referiu Daniela Melo. "Ele é o candidato que dá uma certa segurança à base do partido de conseguir voltar a formar a mesma coligação que derrotou Trump nas últimas eleições", continuou.

"Os democratas sentem-se claramente otimistas quanto a esta questão porque acham que Trump é um candidato que podem derrotar. Se for um DeSantis, a questão é muito diferente". A investida de um candidato jovem e popular com a base conservadora contra Biden complica as contas, ao contrário de Trump.

"A capacidade de Trump de mobilizar o voto pela negativa é incrível", frisou. "O DeSantis não tem um historial que vá trazer o mesmo tipo de coligação às urnas".

Há também uma fadiga relativa ao ex-presidente, mesmo antes do início da nova campanha, e muita gente não quer vê-lo de novo na Casa Branca. "Trump é tão polarizador que consegue mobilizar o voto contra ele".

Lusa

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