O Governo do Brasil rebateu hoje as críticas do Presidente da Colômbia relativamente à exploração de petróleo na Amazónia e afirmou que o povo brasileiro tem "o direito de conhecer as suas potencialidades".
"Não se pode negar ao povo brasileiro o direito de conhecer as suas potencialidades", afirmou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em conferência de imprensa transmitida pela EBC, à margem IV Cimeira presidencial da Organização do Tratado de Cooperação Amazónica (OTCA), na cidade amazónica brasileira de Belém, evento organizado pelo Presidente do Brasil.
"Estamos falando a 500 quilómetros da foz do [Rio] Amazonas", disse, referindo-se ao facto de a maior petrolífera estatal brasileira, Petrobras, afirmar estar muito confiante em poder começar a explorar um controverso campo de petróleo 'offshore' perto da foz do rio Amazonas, apesar de uma recusa recente por parte das autoridades ambientais.
Horas antes, durante a cimeira que junta os oito países que têm nos seus territórios a maior floresta do planeta, o Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, considerou haver "um enorme conflito ético, sobretudo por forças progressistas, que deveriam estar ao lado da ciência".
"[Os governos de] direita têm um escape fácil, que é o negacionismo. Negam a ciência. Para os progressistas, é muito difícil. Gera então outro tipo de negacionismo: falar em transições", afirmou, referindo-se ao termo usado para justificar a continuidade dos investimentos de exploração de petróleo.
"Se a floresta produz petróleo e isso está a matar a Amazónia, passa a haver um efeito duplo: a floresta já não é mais esponja de CO2, ela também emite", insistiu.
Petro voltou a levantar a bandeira contra o uso de combustíveis fósseis, como o carvão, o petróleo e o gás, com críticas veladas aos governos de esquerda da região, como o brasileiro, que defendem este tipo de projetos, mesmo na Amazónia.
"Sem a floresta amazónica, vamos para os Estados Unidos em êxodo, porque o que é que as pessoas vão fazer sem água? Vão-se embora, é a coisa lógica a fazer", disse.
"É possível manter uma linha política deste nível, apostar na morte e destruir a vida, ou devemos propor outra coisa, que é aquilo a que chamo uma sociedade descarbonizada?", questionou.
Apesar da ambição brasileira para esta cimeira, a diminuição da exploração de petróleo na região tem sido tema 'tabu', com tentativas de evitar a questão por parte de diplomatas e até dos próprios Lula da Silva e da sua ministra do Ambiente, Marina Silva.
A Colômbia, além de insistir no desmatamento zero, tal como o Brasil defende para esta cimeira, anunciou o fim de novas licenças para explorar petróleo no início do ano e esperava que o assunto fosse discutido nesta cimeira de líderes que junta os oito países que têm a floresta Amazónica no seu território.
Na mesma ocasião, Gustavo Manrique, ministro dos Negócios Estrangeiros do Equador, país com uma prolífica indústria petrolífera na floresta tropical, apelou aos países presentes na Cimeira da Amazónia para que se "reinventem" e abandonem o modelo de "exploração desenfreada" para "salvar a Amazónia".
O Equador chegou à Cimeira de Belém na véspera de realizar uma consulta nacional histórica, em 20 de agosto, para pôr termo à extração de petróleo num campo petrolífero da Amazónia.
O estudo para exploração de petróleo perto da foz rio Amazonas localiza-se no estado do Amapá (norte), que tem como senador eleito Randolfe Rodrigues, um político próximo de Lula da Silva que até ao início do ano estava filiado ao partido Rede Sustentabilidade, que tem como bandeira as ações em prol do ambiente, da emergência climática e da proteção de biomas.
"É uma decisão que o Estado brasileiro precisa tomar, mas o que a gente não pode é deixar de pesquisar", disse Lula da Silva, na sexta-feira.
Esta é a quarta reunião de líderes da OTCA, criada em 1995 e integrada pelos oito países amazónicos (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela), e a primeira desde 2009.
lusa