ONU espera desanuviamento das tensões EUA/Irão após troca de prisioneiros

Lusa

As Nações Unidas afirmaram estarem esperançosas em que a troca de prisioneiros entre os Estados Unidos e o Irão, hoje realizada, possa desanuviar as tensões entre os dois países.

"Evidentemente que esperamos que [a troca de prisioneiros] possa levar a uma maior cooperação e a um desanuviamento das tensões", afirmou o porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, Stéphane Dujarric, à imprensa.

Os dois países concretizaram hoje uma troca de prisioneiros (cinco de cada lado), acordo possível graças à mediação dos governos do Qatar, Omã, Suíça e Coreia do Sul, tendo os norte-americanos já chegado a Doha, a partir de onde falaram com o secretário de Estado Antony Blinken.

Após a transferência de 6.000 milhões de dólares (5.620 milhões de euros) de fundos iranianos congelados na Coreia do Sul, condição posta por Teerão para libertar os cinco norte-americanos, o avião do Qatar que os transportou aterrou na pista do aeroporto internacional de Doha por volta das 14:40 GMT (mais uma hora em Lisboa).

Apesar do acordo, é quase certo que as tensões se mantenham elevadas entre os Estados Unidos e o Irão, que estão envolvidos em várias disputas, nomeadamente sobre o programa nuclear de Teerão.

O Irão afirma que o programa é pacífico, mas atualmente enriquece urânio mais perto do que nunca de níveis de qualidade para armas.

A troca planeada desenrolou-se no meio de uma grande escalada militar norte-americana no Golfo Pérsico, com a possibilidade de as tropas dos Estados Unidos abordarem e apreenderem navios comerciais no Estreito de Ormuz, por onde passam 20% de todos os carregamentos de petróleo.

Na conversa entre os cinco prisioneiros libertados e o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken descreveu-a como "comovente".

"É uma sensação muito boa poder dizer que os nossos concidadãos são agora livres. Falei com eles quando aterraram em Doha. Posso dizer-vos que foi uma conversa comovente para eles e para mim", disse Blinken aos jornalistas em Nova Iorque.

Blinken voltou a justificar o acordo alcançado com o Irão que permitiu a troca de prisioneiros, nomeadamente a transferência dos 6.000 milhões de dólares de fundos iranianos congelados na Coreia do Sul, argumentando que o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tinha tomado uma "decisão difícil" com pleno conhecimento dos factos.

Questionado sobre se esta troca poderia levar a discussões mais amplas com o Irão, por exemplo sobre o seu programa nuclear, o secretário de Estado respondeu que não esperava que isso acontecesse, pelo menos à margem da Assembleia Geral da ONU, que começa terça-feira em Nova Iorque.

"Neste processo, os compromissos que foram necessários para garantir a libertação destes norte-americanos, injustificadamente detidos, foram sempre separados dos nossos compromissos, ou da falta deles, com o Irão" sobre as questões nucleares, disse, destruindo as esperanças de novas conversações sobre este assunto.

O acordo já expôs Biden a novas críticas dos republicanos e de outros que afirmam que a administração está a ajudar a impulsionar a economia iraniana numa altura em que Teerão representa uma ameaça crescente para as tropas norte-americanas e os aliados do Médio Oriente, indicando que tal poderá ter também implicações na sua campanha de reeleição como Presidente dos Estados Unidos.

Biden, aliás, ao congratular-se com a libertação dos cinco prisioneiros, anunciou também novas sanções contra iranianos, o antigo Presidente Mahmoud Ahmadinejad e o Ministério dos Serviços Secretos, por considerar que Teerão procede a detenções injustas.

"Como refém, foram-me roubados 2.898 dias do que deveriam ter sido os melhores dias da minha vida e substituídos por tormentos", disse Siamak Namazi, um dos norte-americanos libertados pelo Irão.

Numa declaração divulgada pelo seu advogado, Namazi, detido na prisão iraniana de Evin desde 2015, agradeceu a todos os que contribuíram para a libertação, juntamente com quatro outros prisioneiros, acusados de espionagem e de manter contactos com o governo dos EUA.

"Hoje não estaria livre se não fosse por todos vós, que não permitiram que o mundo me esquecesse. Do fundo do meu coração, obrigado. Obrigado por terem sido a minha voz quando eu não podia falar por mim próprio e por terem assegurado que eu era ouvido quando reunia forças para gritar por detrás dos muros impenetráveis da prisão de Evin", afirmou.